Joaquín Turina
Instrumentação: Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, cordas.
O nacionalismo musical espanhol do final do século XIX e começo do século XX, inaugurado pelas ideias do compositor e musicólogo catalão Fernando Pedrell, gravitou em torno de quatro nomes: Isaac Albéniz (1860-1909), Enrique Granados (1867-1916), Manuel de Falla (1876-1946) e Joaquín Turina. O mais jovem dos quatro, Turina foi o último a se associar ao movimento e talvez seja aquele que mais se distinga no grupo, uma vez que foi o compositor a voltar-se mais atentamente para as grandes formas clássicas do repertório europeu. Destarte, Turina foi o único deles a compor uma sinfonia.
Sua associação ao movimento nacionalista espanhol, ao menos em termos ideológicos, data de maio de 1907, quando de seu segundo concerto em Paris. Turina mudara-se para a capital francesa em outubro de 1905 para tomar aulas de piano com Moritz Moszkowski e em janeiro de 1906 inscrevera-se na Schola Cantorum a fim de estudar com o compositor Vincent D’Indy. Cercado pelas mais diversas tendências musicais, decide-se a compor um quinteto inspirado na obra de César Franck. Naquele concerto, Turina executou o Quinteto, op. 44, de Robert Schumann, e seu próprio Quinteto em sol menor, op. 1, além do primeiro livro de Iberia de Albéniz e o Prelúdio, Coral e Fuga de Franck. Albéniz, que se encontrava na plateia, surpreendera-se com a linguagem nada espanhola de Turina e, juntamente com Manuel de Falla, foi ter com o compositor após o recital. O veterano compositor espanhol assegurou a Turina que faria com que seu quinteto fosse publicado, ao preço de o jovem comprometer-se a compor obras inspiradas pela tradição musical popular espanhola.
Obra do período mais prolífico de Turina, Canto a Sevilla ilustra o trabalho nacionalista do compositor e compõe com Sevilla, Suíte pintoresca, op. 2, Rincones sevillanos, op. 5, Sinfonia Sevillana, op. 23, Mujeres de Sevilla, op. 89, e Por las calles de Sevilla, op. 96, um conjunto de obras em homenagem a Sevilha, sua cidade natal. Inspirado na poesia de José Muñoz San Román, Canto a Sevilla foi composto entre junho e novembro de 1925. A obra inicialmente foi concebida como um ciclo de quatro canções para voz e piano, intercaladas com três movimentos para piano solo: Preludio, Noche de feria e Ofrenda. Entre fevereiro e abril de 1926, Turina orquestrou as quatro canções pela primeira vez. Insatisfeito com a orquestração, reorquestrou-as duas vezes mais, tendo trabalhado na versão definitiva entre julho e dezembro de 1934. A orquestração das peças para piano solo, no entanto, ficou a cargo do compositor Ángel Mingote. Tendo como solista Crisena Galatti, a primeira versão da obra foi estreada em Sevilha, em 3 de maio de 1926, pela Orquestra Sinfônica de Madrid, regida por Fernández Arbós. Em nota para o programa de estreia, Turina escreve: “Noche de feria quer dizer noite de folia. Palmas, vinho manzanilla, baile de sevillanas, cantar de dor, mistura sentimental, eco longínquo de outras festas, muito barulho, enfim”. E conclui dizendo que “todos os temas e elementos rítmicos [de Canto a Sevilla] se unem ao final num ramalhete, uma Ofrenda a Sevilha”.
Igor Reyner
Pianista, Mestre em Música pela UFMG, doutorando de Francês no King’s College London e colaborador do ARIAS/Sorbonne Nouvelle Paris 3.