Claudio Santoro
Instrumentação: cordas.
Claudio Franco de Sá Santoro nasceu em Manaus a 23 de novembro de 1919. Aos treze anos, o Estado do Amazonas enviou-o ao Rio de Janeiro para estudar violino. Terminou seu curso em 1937, aos dezoito, e passou a ensinar no Conservatório de Música do Distrito Federal (Rio de Janeiro), onde estudara. Decidiu-se pela composição aos dezenove. Sua Primeira Sinfonia, para duas orquestras de cordas, possui movimento de abertura livremente atonal, de 1939, e segundo movimento, de 1940, em técnica dodecafônica, resultado de estudos iniciados naquele ano com Hans-Joachim Koellreutter.
Em 27 de junho de 1946 recebe a notícia de que fora contemplado com bolsa da Fundação Guggenheim. Em 4 de setembro, escreve a Francisco Curt Lange: “Não posso seguir para os Estados Unidos porque o cônsul negou-me o visto no passaporte por ser eu membro do Partido Comunista”. Com recomendação de Charles Munch, obtém bolsa da Embaixada da França e parte para a Europa a bordo do Groix, o “navio mais lento do mundo”, em 23 de setembro de 1947. Vinte e quatro dias de travessia em terceira classe levam-no a Paris, onde passa a encontrar-se com Nadia Boulanger, que dele diz: “Já é um compositor, um artista, está apenas tendo umas discussões comigo”.
Em março, júri composto por Igor Stravinsky, Serge Koussevitzky, Aaron Copland, Walter Piston e Nadia Boulanger atribui-lhe bolsa da Fundação Lili Boulanger. Santoro participa ativamente da vida musical europeia. Em maio apresenta comunicação em Praga durante o Segundo Congresso Internacional de Compositores e Críticos Musicais, cujo manifesto, redigido por Hans Eisler, é frequentemente confundido com a Resolução de 10 de fevereiro de 1948 do Comitê Central do Partido Comunista Soviético – o Decreto de Zhdanov. A 14 de outubro embarca de volta para o Brasil.
Santoro, seu sucesso e sua ideologia encontram hostilidade no país. Em julho de 1950 passa a trabalhar como compositor na rádio Tupy. Escreve o Canto de Amor e Paz, para orquestra de cordas, que Eleazar de Carvalho estreia com a Orquestra Sinfônica Brasileira em 1951. Em Viena, o Conselho Mundial da Paz confere à partitura o Prêmio da Paz em 1952. Nesse ano, a obra é executada em Salzburgo e nos Festivais de Maio, em Praga. Em 1954 Santoro a rege no Brasil, para gravação em LP, cuja contracapa assim a descreve:
Canto de Amor e Paz, pelas suas qualidades intrínsecas e repercussão, marcou a ruptura definitiva de Claudio Santoro com as teorias dodecafonistas e atonalistas. Inspirando-se em ideias generosas e humanas, o compositor procurou dar maior importância a uma linha melódica de conteúdo realista, inspirada nas características mais frisantes da música popular brasileira. Canto de Amor e Paz se constrói, através de uma admirável escritura, sobre um tema sereno, que se desenvolve em primeiro plano, sem que tal serenidade fuja, porém, aos contrastes dramáticos, próprios do amor.
Sua música não é atonal, dodecafônica ou nacionalista, mas tudo isso, às vezes ao mesmo tempo; é dizer, subjetiva e experimental.
Carlos Palombini
Musicólogo, professor da Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais.