Leonard Bernstein
Instrumentação: Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, requinta, 2 clarinetes, clarone, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, cordas.
Leonard Bernstein foi, antes de mais nada, um grande regente. Talvez um dos mais importantes que o século XX tenha conhecido. E regeu de tudo: de Bach a Messiaen. Suas gravações figuram entre as mais importantes da indústria fonográfica e algumas delas são antológicas: a da Rapsódia em Blue de Gershwin, de 1983, feita ao vivo, em que ele é solista e regente à frente da Orquestra Filarmônica de Los Angeles (que traz como bis o segundo prelúdio para piano também de Gershwin); a que ele fez com o pianista Glenn Gould, em 1960, para a rede CBS de televisão, do concerto em ré menor de Bach; a da Grande Missa em dó menor de Mozart, também ao vivo e registrada em vídeo, à frente da Orquestra Sinfônica e do Coro da Radiodifusão da Baviera, em 1990 – ano de sua morte –, para citar apenas algumas poucas.
Sua formação musical não é menos sólida: estudou em Harvard e depois no Curtis Institute of Music, na Filadélfia, onde foi aluno de nada menos do que Fritz Reiner. Além disso, seu talento invulgar foi reconhecido desde muito cedo, seja por Koussevitzky, com quem tomou aulas de regência nos festivais de verão em Tanglewood, seja pelo próprio Toscanini, que, em 1946 o convidou a reger dois concertos à frente da Orquestra Sinfônica da NBC. O fato é que ele conduziu as principais orquestras sinfônicas do mundo e por todas era igualmente respeitado e aclamado.
Como compositor, ele soube aproveitar sua formação e sua inestimável experiência de regente, associando-as a uma espécie de descompromisso com quaisquer tendências ou correntes escolásticas, aliás, típico dos compositores norte-americanos do século XX. Usa de suas fontes como lhe convém para criar, e está nisso parte de sua originalidade. Ele é capaz de compor tanto uma missa, quanto obras baseadas na tradição religiosa judaica; transita com igual desenvoltura entre a sinfonia, o jazz e as canções para a Broadway: se, de alguma forma, ele aborda o folclore, é a um universo urbano, genuinamente estadunidense, que sua música sempre se remete.
E foi justamente para a Broadway que, na década de 1950, ele compôs dois dos maiores sucessos do teatro musical norte-americano: Candide, opereta baseada na obra de Voltaire, e West Side Story. Ao que parece, Bernstein trabalhou em ambas as obras ao mesmo tempo e, portanto, é natural que haja algum intercâmbio de material entre elas. Candide foi estreada em 1956, mas sofreu diversas modificações posteriores. Sua Abertura foi executada pela primeira vez como peça de concerto pela Orquestra Filarmônica de Nova York em 1957 e, desde então, mostrou-se suficientemente autônoma e cativou o gosto do público. Sua música embebeu-se da ironia da obra de Voltaire e, na Abertura de Candide, tem-se a impressão absurda de que de repente Rossini se tivesse convertido em compositor de jazz. Essa reelaboração tão sutil e tão original mostra não apenas a excelência do compositor, mas, ao mesmo tempo, sua cultura musical universal e a sua capacidade de fazer também dela material para seus processos criativos.
Moacyr Laterza Filho
Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa, professor da Universidade do Estado de Minas Gerais e da Fundação de Educação Artística.