A verdadeira fruição musical dos "Noturnos" de Chopin
| 30 abr 2020
A magia do piano de Beethoven e Arrau
BEETHOVEN | Sonata nº 14, “Ao Luar”
Beethoven não é apenas um grande gênio da história da música; ele se tornou sinônimo da força da música clássica enquanto agente de transformação da sociedade. Assim como Bach, Beethoven acolhe as propostas estéticas do Rococó e do Classicismo, consolidando os padrões formais utilizados até hoje e propondo rupturas que deram ensejo à geração romântica que o seguiu. Dentre tantas obras-primas, é difícil escolher uma ou outra que exemplifiquem essa genialidade absoluta. Mas, vamos tentar…
A trajetória estética de Beethoven pode ser compreendida principalmente em suas sonatas para piano, quartetos de cordas e sinfonias. Nelas encontramos o tratamento respeitoso às tradições de seu tempo, consolidando as regras do Classicismo do ponto de vista formal, seus experimentos em transfigurá-las, adaptando-as às suas necessidades expressivas, e finalmente, propondo uma realidade artística jamais experimentada antes dele.
A famosa Sonata ao Luar (nº 14) mostra uma disciplina harmônica que valoriza as conquistas tonais do Classicismo, ao mesmo tempo que revoluciona as “regras” da época no que tange à organização formal. Ao invés de um primeiro movimento alegre, respeitando os preceitos da forma sonata (a principal estrutura utilizada pelos compositores do período clássico), ele nos convida a uma livre fantasia em que o lento pulsar rítmico dá ensejo a uma dolente melodia e uma sequência harmônica que se desenvolve paulatinamente, deixando-nos experimentar seu sabor, compasso a compasso. O rápido e jocoso scherzo se transforma em algo singelo e gracioso, enquanto o último movimento manifesta a característica beethoveniana de valorizar sobremaneira a força rítmica e seus desvios de pulso.
Um dos maiores intérpretes de Beethoven foi o chileno Claudio Arrau. Dentre tantos pianistas do passado e de hoje, o que faz dele minha escolha especial? Primeiramente, o respeito às intenções do compositor, manifestadas na escrita precisa que Beethoven conferia às suas partituras. Em segundo lugar, um fraseado desprovido de afetação em que a beleza da sonoridade e da linha vem de um apurado toque. Terceiro, o entendimento formal de como a interpretação é pensada através da estrutura geral da obra e não de suas partes individuais. Quando isso é atingido, mesmo erros técnicos menores podem ser perdoados. Afinal, até os gênios são humanos…
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