Schoenberg em brilhante interpretação da Orquestra de Câmara Norueguesa
| 20 nov 2020
A verdadeira fruição musical dos "Noturnos" de Chopin
Muitas vezes, pessoas perguntam “por que não tocamos mais Chopin em nossa programação?” É verdade que esse admirado compositor não aparece tanto nas temporadas de orquestras em geral. Mas a resposta é simples: ele escreveu muito pouco para orquestra. O que temos, nesse âmbito, são seus concertos e algumas peças soltas, como variações e fantasias. Sua grande contribuição na história da música concentra-se primordialmente em sua obra pianística, esta sim, única e maravilhosa.
Chopin viveu apenas 39 anos. Durante esse espaço de tempo, ele se estabeleceu como um dos mais importantes pianistas de sua geração, transformando a técnica e todo um conceito sonoro relativo ao piano, o que o diferenciou de praticamente quase todos os outros compositores românticos europeus. Sem ele, dificilmente teríamos Liszt, Schumann, Brahms e, eventualmente Debussy e Ravel.
Na escrita de Chopin, o piano deixa de ser um instrumento de certa maneira percussivo (Hammerklavier) para se tornar uma extensão da voz humana. Seu piano não é acionado por martelos, mas sim pelo pedal, ou a reverberação cristalina de suas cordas. Seu estilo se define por conferir ao piano um papel outrora reservado às grandes linhas melódicas das “coloraturas” nas óperas de Bellini, Donizetti e Rossini. Enfim, seu piano canta.
Chopin também representa uma das características mais essenciais do Romantismo: a fantasia, não somente na maneira livre e subjetiva em que sua música flui, mas na liberdade formal que aspira, frequentemente em obras curtas, autossuficientes, muitas vezes intimistas e taciturnas. E, talvez, em nenhum outro ciclo ele se expresse de maneira tão singular como em seus Noturnos.
Cada um deles (são 21 ao todo) explora uma pluralidade de emoções, de uma riqueza sonora inusitada até então, envolvendo fluência melódica, ambição harmônica, encapsuladas numa estrutura extremamente simples. São peças que nos dão real prazer em escutá-las, principalmente quando interpretadas por alguns dos mais importantes pianistas da história.
Não existe uma versão em vídeo da integral dos Noturnos de Chopin. A que escolhi abaixo permitirá ao ouvinte fechar os olhos e apenas escutar, o que é o verdadeiro ato de fruição musical. Trata-se da gravação do pianista italiano Maurizio Pollini, que une uma visão musicalmente poética e uma sonoridade cristalina tão importante no entendimento deste grande compositor.
Uma boa audição.
Ilustra este post uma imagem feita por Maria Wodzińska.
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