A verdadeira fruição musical dos "Noturnos" de Chopin
| 20 Maio 2020
Os quartetos de Beethoven e da Juilliard
Beethoven | Quarteto nº 14, op. 131
A transformação revolucionária que Beethoven imprimiu na música ocidental vem da busca gradual de uma maior liberdade formal (não da ausência de forma) e da expansão do sistema tonal a um nível de dilatação harmônica que poucos compositores que o sucederam conseguiram entender e explorar. Essa trajetória de uma vida criativa intensa e iluminada culmina em seus últimos quartetos para cordas.
O exemplo abaixo, numa interpretação magistral do Quarteto de Cordas da Juilliard School of Music, mostra até que ponto Beethoven foi capaz de transformar essas estruturas e expandir o conceito de tonalidade. Pelo caráter intimista que a música de câmara nos traz, especialmente em agrupamentos “monotímbricos” como o quarteto de cordas, nosso contato com o processo intelectual e criativo de compositores é mais direto, fazendo com que realmente penetremos no âmago da vida interior desses grandes criadores.
Ao escutarmos esse quarteto temos que entender a pessoa de Beethoven nessa época: doente, profundamente surdo, distanciado da sociedade, envolvido cada vez mais com o seu próprio interior, lutando contra a falta de aceitação de sua música pela sociedade da época. Mas, ao contrário do que se espera de pessoas afligidas pela solidão, pela falta de reconhecimento e pela desesperança, Beethoven continuava a criar, a buscar caminhos, organizando suas ideias de maneira a expressarem profundos sentimentos e, ao mesmo tempo, convicções estéticas e artísticas de um indivíduo consciente de sua genialidade e da sua capacidade e necessidade de criar. É nesse contexto que os convido a se assentarem calmamente e se deixarem envolver pela profundidade e beleza deste maravilhoso quarteto.
A imagem que ilustra este post é uma pintura de Joseph Stieler.
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