Sinfonia nº 1 em Mi bemol maior, op. 1

Igor STRAVINSKY

(1905/1907)

Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tímpanos, cordas.

 

Igor Stravinsky é reconhecido, dentre outras coisas, por um estilo musical diversificado que, ao longo dos anos, abrangeu um primitivismo musical de matriz eslava, um neoclassicismo irônico e rigorosamente formal e um serialismo idiossincrático. Filho do mais aclamado baixo-barítono do mundo operístico russo da época, Fiódor Stravinsky, o jovem Igor cresceu habituado a óperas, teatros, ensaios e familiarizado com os mais célebres cantores e compositores da cena musical de São Petersburgo. Sua orientação formal em composição teve início tardiamente em 1901, pelas mãos de Fiódor Akimenko e Vasily Kalafaty, ambos pupilos de Nikolai Rimsky-Korsakov, seu futuro mentor. No verão de 1902, por sugestão de Vladmir Rimsky-Korsakov, filho do compositor e seu colega no curso de Direito da Universidade de São Petersburgo, Stravinsky visitou Heidelberg a fim de mostrar seu portfólio ao reputado professor do Conservatório de São Petersburgo, que ali se encontrava de férias. Rimsky-Korsakov aceitou orientá-lo uma vez que ele avançasse em seus estudos musicais, incumbindo-lhe, para este fim, de compor uma sonata para piano e uma sinfonia.

 

Os trabalhos na Sinfonia em mi bemol maior, op. 1, começaram em 1904, logo após a conclusão da Sonata para piano em fá sustenido maior. No verão de 1905, Stravinsky concluiu o primeiro rascunho de uma obra de modelo convencional em quatro movimentos. Ao longo do trabalho de orquestração, o rascunho foi substancialmente modificado em razão das orientações semanais de prática composicional e instrumentação que passara a receber de Rimsky-Korsakov a partir do outono de 1905. Embora o segundo e o terceiro movimentos da Sinfonia tenham sido estreados em 29 de abril de 1907, os dois outros só foram finalizados no verão de 1907, e a obra completa estreada na noite de 22 de janeiro de 1908, pela Orquestra da Corte, num concerto que, para Stravinsky, marca sua estreia oficial como compositor.

 

Laboratório de composição e exemplar da ainda incipiente prática de importação de temas e ideias de outros compositores, a Sinfonia nº 1 é reminiscente das sinfonias de Tchaikovsky e, especialmente, da Quinta, da Sétima e da Oitava sinfonias de Glazunov. A obra agrega ainda referências diversas: da Eroica de Beethoven à Sinfonia em dó menor, op. 12, de Sergei Taneyev, incluindo elementos de Schumann, Rimsky-Korsakov, Sibelius, Scriabin, Borodin e outros. Ela – e o Scherzo em especial –anuncia aspectos da linguagem de Stravinsky que aparecerão de modo mais maduro nos balés O Pássaro de Fogo e Petrushka. Se, para seu compositor, a Sinfonia nº 1 não seja mais do que “um documento que pela enésima vez mostre como não compor”, para seu contemporâneo, o compositor Miaskovisky, ela é “o reservatório para o qual escoaram todas as fontes que alimentaram [Stravinsky] e contribuíram para a formação de seu gosto”. Embora juvenil, a Sinfonia nº 1 faz ouvir em toda sua potência a música sinfônica russa do final do século XIX e começo do século XX, e é com ela que Stravinsky inaugura sua carreira composicional.

 

Igor Reyner
Pianista, Mestre em Música pela Universidade Federal de Minas Gerais e Doutor em Literatura pelo King’s College London.

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