Sinfonia nº 2 em Dó maior, op. 61

Robert SCHUMANN

(1845/1846)

Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tímpanos, cordas.

 

Em 1844 Robert Schumann sofrera um colapso nervoso. Os sintomas agravaram-se em dezembro, levando-o a uma quase total improdutividade no ano seguinte. Em setembro de 1845 escreveu a Felix Mendelssohn sobre o quanto estava difícil colocar umas poucas notas no papel. Então, subitamente, na segunda semana de dezembro, a Segunda Sinfonia começou a surgir e, em três semanas, já estava pronta.

 

Em fevereiro de 1846 Schumann começou a orquestrá-la, mas, com a volta dos sintomas de sua doença, passou a experimentar longos períodos de exaustão, depressão e obsessões. Lutou bravamente o ano inteiro até conseguir terminar a orquestração em outubro. A estreia se deu em novembro, com a Orquestra da Gewandhaus de Leipzig, sob regência de Mendelssohn. Mas esse não foi um concerto feliz para Schumann, segundo sua esposa Clara. A primeira parte do repertório consistia em longos trechos das óperas Euryanthe, de Weber, e Guilherme Tell, de Rossini. Sua sinfonia foi tocada na segunda parte, por uma orquestra e maestro exaustos. O público, já bastante cansado, não conseguiu apreciar essa obra intensa, de difícil assimilação por uma escuta desatenta.

 

Embora muitos dos temas da Sinfonia nº 2 façam referência a melodias de J. S. Bach e Beethoven, o caráter da peça nem de longe lembra a obra desses mestres. Para Schumann, o mestre da sinfonia não era Beethoven e, sim, Franz Schubert. O Beethoven de Schumann era, principalmente, o Beethoven das últimas sonatas para piano, livre da rigidez formal clássica. E o Bach de Schumann era essencialmente o Bach contrapontístico da Oferenda musical e do Cravo bem temperado. Assim, o intimismo de Schumann – aliado à expressividade schubertiana, ao contraponto bachiano e ao frescor das últimas sonatas de Beethoven – gerou uma sinfonia extremamente original e pessoal.

 

A Sinfonia nº 2 inicia-se com alguns compassos (Sostenuto assai) que servem de introdução ao Allegro ma non troppo. Porém, diferentemente das introduções das sinfonias de Mozart, Haydn e Beethoven, Schumann não apenas apresenta um tema que será recorrente em toda a obra como prepara o caráter melancólico que será a tônica dessa Sinfonia, e que pode ser percebido mesmo na dramaticidade do último movimento. O segundo movimento é um Scherzo (Allegro vivace). Em compasso ternário, relativamente rápido e alegre, o Scherzo é o movimento que, a partir de Beethoven, passou a substituir o Minueto nas sonatas e sinfonias. Originalmente, um scherzo possui duas seções distintas – Scherzo e Trio – que se articulam com uma volta do Trio da capo (desde o começo). Schumann, na Sinfonia nº 2, assim como também na Sinfonia nº 1, no entanto, faz ouvir o Scherzo, o Trio e, quando esperamos pela volta do Scherzo, brinda-nos com um segundo Trio. O terceiro movimento, Adagio expressivo, traz toda a ternura e melancolia características de suas obras-primas, em momento de doce contemplação, entre a movimentação frenética do Scherzo e a turbulência do último movimento. O quarto movimento, Allegro molto vivace, é muito original em sua estrutura. Coincidindo com a sensível melhora na saúde de Schumann, a energia e o vigor rítmico desse movimento parecem aludir aos bons prognósticos que o compositor começava a experimentar.

 

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

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