Concerto para viola

Krzysztof Penderecki

(1983)

 

O compositor polonês Krzysztof Penderecki dedicou-se desde cedo ao estudo do violino e do piano. Foi professor da Academia de Música de Cracóvia, onde estudou Composição, e veio a se tornar uma das personalidades mais marcantes da música contemporânea.

 

Na década de 1950 sua música apresentava características seriais (de serialismo, técnica adotada pelos compositores do círculo de Darmstad, Alemanha) e, a partir de 1960, Penderecki participa da avant-garde europeia. O caminho que adotou foi o de manipulação de massas sonoras, mais caracterizado pela textura e volumetria do que por grupos de sons e intervalos.

 

A partir dessa mudança, o compositor deu ênfase a uma nova busca por sons, inclusive expandindo registros de vozes e intrumentos convencionais. Dentre suas obras premiadas internacionalmente destacam-se Threnos (Trenodia para as Vítimas de Hiroshima), para 52 instrumentos de cordas (1960), e o Concerto para piano “Resurrection”, composto como reação ao atentado de 11 de setembro de 2001.

 

Marco da fase romântica do compositor é o Concerto para viola, estreado na Venezuela, na comemoração dos 200 anos de Simón Bolívar. A estreia europeia se deu em Leningrado, sob a regência do próprio Penderecki, que, logo após essas estreias, fez para o Concerto nova versão para orquestra de cordas e percussão.

 

Em toda a sua obra observa-se um olhar diferenciado para a sonoridade da viola, pelo tratamento dado ao instrumento, principalmente em suas sinfonias, em que sempre lhe dá papel de destaque.

 

Como os concertos do autor que o antecedem, o Concerto para viola tem um único movimento, com duração média de vinte minutos. O intervalo de segundas descendentes apresentado na Abertura é o principal motivo sobre o qual a obra está construída. Tem início com um recitativo – solo de viola sem divisão de compasso. Logo após esse solo, o grupo constituído de cordas, sopros e uma rica percussão leva a obra a um clímax expressivo com a utilização do material melódico apresentado no início do recitativo. Após essa seção, uma cadenza traz de volta o Lento da introdução, com que a orquestra dá início à seção principal do concerto. Penderecki usa o recurso de um crescendo gradual com a própria textura dos instrumentos, em que a voz da viola emerge a partir de pequenos motivos, formando longas linhas melódicas que trazem à tona um caráter de lamentação e drama. Isso com repentinos contrastes de forças dentro do conjunto orquestra e solista. No Vivace, a orquestra se apresenta vigorosa, com importante participação da percussão, dando caráter de bravura à obra. A partir desse momento, uma segunda cadenza, utilizada para transição, traz de volta o Tempo I. Após essa seção (Lento), segue-se o segundo Vivace extremamante virtuosístico e furioso, interposto entre solista e toda a orquestra para um Epílogo que direciona a obra a um clima nostálgico e dramático.

 

Nos últimos minutos do Concerto, a qualidade do cantabile é restaurada e com ela a sensação de paz, representada pela nota longa sustentada pela orquestra e pelo solista como uma voz que se cala.

 

Carlos Aleixo
Doutor em Viola Performance, Professor da Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais.

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