Bela BARTÓK
Instrumentação: Piccolo, 3 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 3 trompas, 3 trompetes, 2 trombones, tuba, tímpanos, percussão, cordas.
Em 1940, estando a Hungria sob o domínio nazista, Béla Bartók decide emigrar. Tendo tido o cuidado de enviar em primeiro lugar seus manuscritos, em outubro daquele ano ele chega aos Estados Unidos e se estabelece em Nova York. Aceita, nessa cidade, um convite para trabalhar na Columbia University, onde desenvolve um intenso trabalho de concertista e conferencista, além de dar sequência a seus trabalhos de investigação científica. No entanto, Bartók não encontra no ambiente norte-americano a situação propícia para compor. Embora já fosse conhecido, ali, como pianista, professor e pesquisador, suas obras ainda não haviam cativado o público estadunidense. Em 1942, seu estado não é dos melhores: sua situação financeira é deplorável e a saúde também se deteriora; dois anos mais tarde, é diagnosticado um estado terminal de leucemia. No entanto, são da fase final da vida do compositor algumas de suas obras mais importantes. Mesmo trabalhando com dificuldade, consegue terminar o Concerto para orquestra, encomendado por Serge Koussevitzky, conclui a sonata para violino solo, encomendada por Yehudi Menuhin e, por poucos compassos, não deixa completo o terceiro concerto para piano e orquestra, que dedica a sua mulher.
No inverno de 1944, o respeitado violista William Primrose lhe encomenda um concerto para viola. Em julho de 1945 Bartók põe-se a trabalhar na partitura, da qual deixou apenas esboços. Destaca-se, porém, a parte da viola, que logrou finalizar. Após sua morte, Tibor Serly, violista de formação, compositor de certa habilidade, antigo aluno de Kodály e, depois, discípulo e grande amigo de Bartók, dedicou-se à conclusão da obra, completada em 1949. Em dezembro desse mesmo ano o Concerto para viola foi estreado pela Orquestra Sinfônica de Minneapolis, sob a regência de Antal Dorati, tendo Primrose como solista.
É de se notar que a partitura foi revisada duas vezes depois disso. A primeira, em 1995, por Peter Bartók (filho de Béla Bartók) e Paul Neubauer e a segunda, pelo violista húngaro Csaba Erdélyi. Além disso, há algumas discrepâncias no que concerne à orquestração da obra: os esboços de Bartók sugerem uma instrumentação relativamente modesta. A versão de Tibor Serly amplia muito essa instrumentação, acrescentando metais e percussão. A edição de Peter Bartók e Paul Neubauer sugere uma orquestra ainda maior.
Independentemente disso, a relevante parte da viola não deixa dúvidas sobre a autoria da obra. Mas que não se o ouça desavisado! Não se trata aqui do Bartók pitoresco das Danças Romenas, mas de um compositor maduro, cuja gramática está perfeitamente consolidada, posto que, em parte, destilada de fontes folclóricas, que se entreouvem mais explicitamente no terceiro movimento. Dispensável dizer que ele explora sem reservas as potencialidades e os recursos do instrumento solista, além da bravura do executante, requisitos solicitados pelo próprio Primrose quando o encomendou ao compositor. O Concerto para viola é uma obra sem dúvida moderna, digna de ser incluída no rol das grandes obras do gênero produzidas no século XX.
Moacyr Laterza Filho
Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa, professor da Universidade do Estado de Minas Gerais e da Fundação de Educação Artística.