Samuel BARBER
Instrumentação: Piccolo, 3 flautas, 2 oboés, corne inglês, requinta, 2 clarinetes, clarone, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, piano, cordas.
Um dos mais bem-sucedidos compositores norte-americanos, Samuel Barber começou a compor aos sete anos de idade e, aos quatorze, iniciou seus estudos no recém-fundado Curtis Institute. Prodigioso talento e irrestrito suporte por parte de Mary Curtis Bok, fundadora do instituto, garantiram-lhe uma carreira de sucesso ainda cedo. Em 1938, Arturo Toscanini e a NBC Symphonic Orchestra dedicaram um programa às suas obras, assim inscrevendo seu nome entre os mais respeitados compositores de seu tempo. Praticamente tudo o que compôs após esse programa consiste em encomendas de grandes artistas, importantes grupos instrumentais, associações e fundações. Sua positiva aceitação o levou a representar os Estados Unidos em importantes eventos culturais internacionais, tornando-se o primeiro músico norte-americano a comparecer ao Congresso Bianual dos Compositores Soviéticos em Moscou, em 1962, e ser o vice-presidente do Conselho Musical Internacional do Festival de Música de Praga de 1946.
Refratário aos movimentos de vanguarda, sua produção caracteriza-se pela manutenção da linguagem tonal e de formas canônicas do Romantismo tardio, herança dos nove anos de uma rigorosa orientação musical recebida de Rosario Scalero. A partir dos anos 1940, no entanto, sua linguagem torna-se um pouco mais ousada, dissonante e cromática. No campo da música vocal encontra espaço para experimentar estilos e define seu lirismo pessoal por meio da combinação de elementos barrocos e medievais com tendências neorromânticas. Diferentemente de seus contemporâneos que buscavam criar uma música americana, Barber preocupava-se simplesmente em oferecer uma música acessível ao ouvinte. Raramente recorre a elementos populares ou folclóricos e busca, nas mais diversas tradições literárias, fonte de inspiração. Sua obra explora com igual intensidade textos célticos e gaélicos, a poesia francesa e inglesa, a filosofia dinamarquesa ou tragédias e mitos gregos.
Por encomenda do Ditson Fund, Columbia University, Barber escreveu o balé Medea para a famosa coreógrafa e bailarina Martha Graham. O mito conta que Medeia casou-se com o argonauta Jasão após ajudá-lo a recuperar o velocino de ouro. Obrigada a abandonar sua terra natal, mata seu próprio irmão a fim de escapar de seu pai. Após inúmeros eventos sangrentos, os dois acabam em Corinto, onde o rei Creonte convence Jasão a abandonar Medeia e a casar-se com sua filha. Banida de Corinto e humilhada, Medeia mata o rei Creonte, sua filha e seus próprios filhos tidos com Jasão, numa furiosa vingança. Barber e Graham não utilizam em sua obra o mito como narrativa; interessa-lhes mais a capacidade das personagens de incorporarem e suscitarem estados psicológicos, tais como o ciúme e o desejo de vingança. Em 1948, o balé é adaptado para uma suíte em sete movimentos, estreada pela Philadelphia Orchestra regida por Eugene Ormandy. Finalmente, em 1953, a suíte é adaptada para uma obra de movimento único, Meditação de Medeia e Dança da Vingança, na qual lirismo e violência oscilam numa tragédia musical.
Igor Reyner
Pianista, Mestre em música pela UFMG, doutorando de Francês no King’s College London e colaborador do ARIAS/Sorbonne Nouvelle Paris 3