La Noche de los Mayas

Silvestre REVUELTAS

(1939)

 

Instrumentação: 2 piccolos, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 requintas, clarone, 2 fagotes, 4 trompas, 3 trompetes, 2 trombones, tuba, tímpanos, percussão, piano, cordas.

 

Silvestre Revueltas Sánchez nasceu na cidade de Santiago Papasquiaro em 31 de dezembro de 1899. “Desde muito cedo senti inclinação pela música e como resultado tornei-me músico profissional. Contribuíram para isso alguns de meus professores, com os quais afortunadamente não aprendi muito, devido sem dúvida ao mau hábito da independência”, disse ele. Na juventude, esse “homem tão nu, tão indefeso, tão ferido pelos céus e pelas pessoas”, nas palavras de Octávio Paz, tocou em orquestras de cinema mudo. Em seus seis últimos anos, escreveu música para oito filmes. Alguns desses manuscritos foram também concebidos para execução em salas de concerto (Redes, Música para charlar, Itinerario), embora nunca publicados como tais. Outros serviram para a compilação póstuma de suítes orquestrais.

 

Em La noche de los mayas, filme de Chano Urueta, um nativo apaixona-se pela filha do chefe da tribo, mas um homem branco a seduz e esse relacionamento ocasiona a seca. Ela é açoitada e condenada ao sacrifício. O nativo mata o rival e traz o corpo à presença da condenada, que, no desenlace, suicida-se. A partir do filme editado, Revueltas concluiu trinta e seis sequências em 10 de agosto de 1939. A película estreou em 17 de setembro, e o Comitê Nacional de Cinema concedeu-lhe cinco prêmios, entre eles o de melhor música.

 

A partitura deu origem a duas suítes, uma compilada por Paul Hindemith e outra por José Yves Limantour, concluída em 1959 para alavancar a carreira desse regente na Europa. Esta será a edição ouvida nesta noite. Limantour, que a estreou no México à frente da Sinfônica de Guadalajara em 30 de janeiro de 1960, e na Europa com a Filarmônica de Berlim, em 7 de junho de 1963, a descreve assim:

 

“O primeiro movimento estabelece a atmosfera de toda a composição e pode ser entendido como um vasto prelúdio. O segundo, Noite de jaranas, retrata um festival popular na forma de um scherzo. O terceiro, Noite de Yucatán, contém a música de amor do filme e representa o idílio entre a jovem maia e o engenheiro mexicano. O quarto, Noite de encantamento, prolonga o terceiro. Tem a forma de um tema com variações e um final que captura com extraordinária sensibilidade a atmosfera na qual mesmo hoje os velhos ritos mágicos são ainda praticados pelo que resta da cultura dos maias – uma cultura condenada ao desaparecimento sob as pressões da civilização moderna.”

 

O termo jarana remete à música e dança de Yucatán, gênero que combina tradições locais e europeias na forma do rondó. Ela costuma apresentar-se em compasso binário composto, com appoggiatura descendente no segundo pulso do tempo forte e acento no segundo pulso do tempo fraco, em nota prolongada até o terceiro pulso, ou sincopada até a cabeça do tempo forte. A alusão estilística de Revueltas evoca o maia contemporâneo. Procedimento raro nele, o terceiro movimento cita a melodia pré-hispânica Koonex, koonex: “Vamo-nos, vamo-nos, jovens. Vai-se, vai-se escondendo o sol”. O exotismo nacionalista, sublinhado pelas intervenções de Limantour, decorre da função fílmica da música, à qual os regentes Gustavo Dudamel, EsaPekka-Salonen e Enrique Diemecke acrescentaram suas contribuições.

 

Carlos Palombini
Musicólogo, professor da Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais.

anterior próximo