Concerto para violino em Ré maior, op. 35

Erich Wolfgang Korngold

Filho do eminente crítico musical Julius Korngold, sucessor de Eduard Hanslick na Neue freie Presse, o austríaco Erich Korngold já era notável na Europa quando partiu para Hollywood em 1934. Criança ainda, impressionara Richard Strauss, Puccini, Sibelius, Bruno Walter, Nikisch e outros grandes músicos da época. Quando Gustav Mahler ouviu o menino de nove anos tocar ao piano sua própria cantata Gold, recomendou-o a Alexander von Zemlinsky, renomado professor, compositor e regente com quem Schoenberg e Alban Berg se relacionaram. Zemlinsky foi praticamente o único mestre de Korngold, e mesmo assim por um curto período. Tinha quatorze anos de idade quando escreveu a Schauspiel Ouverture, sua primeira obra orquestral.

 

No ano de 1913, em Viena, enquanto a Academia de Literatura e Música divulga novas pequenas peças de Webern, o célebre Felix Weingartner dirige a Sinfonieta de Korngold. Internacionalmente aclamado pela ópera Die tote Stadt, torna-se reconhecido operista aos vinte e três anos. No final dos anos 1920, já lecionava composição e ópera na Academia Estatal de Música de Viena.

 

Quando Max Reinhardt – o grande diretor e produtor teatral que revolucionou a cenografia e exerceu forte influência na cinematografia europeia – necessita adaptar Mendelssohn para o filme Sonho de uma noite de verão, chama Erich Korngold para Hollywood. O convite muda a direção da vida do compositor. Passa a desenvolver um gênero próprio – a composição sinfônica cinematográfica – que o tornaria reconhecido como um dos fundadores da música para cinema. Concebe cada filme como uma “ópera sem canto”, desejando que a música possa ser executada em salas de concerto, sem o filme. Conquista Oscars de melhor trilha sonora com Adversidades em 1936 e com As aventuras de Robin Hood, de Michael Curtiz, em 1938. Enquanto trabalha em Hollywood mantém-se ligado à Europa pelo trabalho e pela família.

 

Após a anexação da Áustria, exila-se nos Estados Unidos tornando-se cidadão norte-americano em 1943. Retorna à Áustria ao final da guerra com a intenção de retomar a música de concerto e afastar-se do cinema. A criação do Concerto para violino marca esse retorno, mas toma de empréstimo música composta para Hollywood. Decepcionado e sentindo-se esquecido, Korngold volta para a América onde, em 1956, sofre um acidente cardiovascular que o deixa parcialmente paralisado, vindo falecer em novembro de 1957. Hoje, numerosas gravações e apresentações ao vivo vêm assegurando a memória de suas obras.

 

O Concerto para violino em Ré maior, iniciado em 1937 por incentivo do amigo Bronislaw Huberman (ilustre violinista emigrado também) e dedicado a Alma Mahler, foi revisado em 1945. Jascha Heifetz estreou-o com a Saint Louis Symphony Orchestra, sob a batuta de Vladimir Golschmann, em 1947.

 

No Moderato nobile, o violino apresenta um tema do filme Outra Aurora (1937), o segundo tema vem de Juarez (1939), Adversidades fornece a melodia da romanze. O Finale, um virtuosístico Allegro assai vivace, leva dos staccati do primeiro tema aos legati da melodia inspirada em O príncipe e o mendigo (1937). Composto “mais para um Caruso que para um Paganini” e impregnado de melodias de cinema, o Concerto para violino em Ré maior tipifica a ópera sem canto de Erich Korngold.

 

Igor Reyner
Pianista, Mestre em Música pela UFMG, doutorando de Francês no King’s College London e colaborador do ARIAS/Sorbonne Nouvelle Paris 3.

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