Concerto para violino em Ré maior, op. 61

Ludwig van BEETHOVEN

(1806)

Instrumentação: flauta, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.

 

O período de 1804 a 1808 foi um dos mais fecundos na vida de Beethoven, com uma série impressionante de obras-primas: as Sonatas para piano Appassionata e Aurora, os três Quartetos de cordas Rasumovski, op. 59, a ópera Fidelio, as Sinfonias nº 4, nº 5 e nº 6, o Concerto para piano nº 4 e o único Concerto para violino.

 

Quando o concerto estreou a 23 de dezembro de 1806, a crítica se surpreendeu com sua inusitada concepção – um tecido sinfônico em que o violino e a orquestra se associam e dividem igualmente as tarefas. A obra não visa à exibição do virtuosismo do solista. Ao contrário, confia-lhe a nobre missão de vencer consideráveis dificuldades técnicas e musicais sem a necessidade de brilhar individualmente. Os atributos virtuosísticos do violino são usados para iluminar a expressividade do discurso orquestral. Talvez por isso, o atual sucesso do Concerto só viesse a se consolidar quarenta anos após sua estreia, principalmente pelo empenho do violinista Josef Joachim.

 

O Concerto apresenta os três movimentos característicos do gênero: o primeiro, um amplo Allegro ma non troppo em forma de sonata bitemática, inicia-se com misteriosos golpes de tímpano – um motivo rítmico de quatro notas que reaparecerá periodicamente ao longo de todo o movimento, como verdadeiro motivo condutor. A orquestra apresenta os temas principais em longa introdução eminentemente lírica. A amplitude de um tutti orquestral condensa o material temático e cria o suspense preparatório para a entrada do solista – uma volata em oitavas quebradas, do grave ao agudo. Somente então ocorre a verdadeira exposição formal dos temas que, sobre hábil acompanhamento sinfônico, serão repartidos – de um lado, os fagotes e os clarinetes; do outro, o violino solista. Elementos temáticos serão engenhosamente trabalhados no desenvolvimento, com as ornamentações do violino contribuindo para tornar mais gracioso o desenho das linhas melódicas. O motivo rítmico inicial, com suas quatro notas, anuncia a reexposição dos temas, agora apresentados com modificações significativas na interação de solista e orquestra. À cadência conclusiva do solista segue-se uma coda que, de tão ampla, parece um novo desenvolvimento. Esse primeiro andamento culmina em poderosos acordes conclusivos.

 

O Larghetto é um tema variado, com caráter de romanza. O clima é de comovente poesia. A orquestra introduz o tema pianissimo nas cordas. Em seis variações decorativas, o solista traça arabescos melódicos unindo-se às trompas, aos clarinetes e ao fagote. No final, uma cadência viva do solista conduz ao rondó seguinte, um Allegro de contagiante alegria, construído por um tema principal e duas estrofes. Em uma delas, o violino canta sustentado pelas trompas, até entregar a lírica melodia ao fagote. Esse movimento contém alguns dos momentos mais belos do concerto. Ao final da curta cadência do solista, a coda recorda o tema do refrão, antes que a partitura termine com dois acordes vigorosos.

 

Paulo Sérgio Malheiros dos Santos
Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado.

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