Horizontes

Ronaldo Miranda

(1992/1997)

Instrumentação: Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 4 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, piano, celesta, cordas.

 

Nascido no Rio de Janeiro, Ronaldo Miranda cursou a Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro, quando foi aluno de piano de Dulce de Saules e de Henrique Morelenbaum para composição. Estudou também Jornalismo, que exerceu paralelamente, no início de sua vida profissional, como crítico musical do Jornal do Brasil. Em 1977 obteve o primeiro prêmio no Concurso de Composição da II Bienal de Música Brasileira Contemporânea da Sala Cecília Meireles. Participou posteriormente de vários concursos e festivais, inclusive internacionais, dentre os quais se destacam o Concurso Internacional de Composição de Budapeste (1986) e a X Bienal de Música de Berlim (1985).

 

Segundo o próprio autor, sua obra pode ser dividida em fases: a estudantil; uma segunda, quando pratica o atonalismo livre; uma terceira, em que opta pelo neotonalismo ou neorromantismo; e realiza, na atualidade, uma síntese em que se utiliza de técnicas composicionais tradicionais e modernas, construindo uma expressividade própria.

 

Ao longo de sua carreira, Ronaldo Miranda tem composto para várias formações, explorando desde o instrumento solo até combinações camerísticas diversas e orquestra. Compôs também música para coro e ópera. Em sua produção dramática, além de A tempestade (2006) e O menino e a liberdade (2013), destaca-se Dom Casmurro (1992), ópera escrita sobre o romance homônimo de Machado de Assis, com libreto de Orlando Codá. Nessa obra, empreende a difícil tarefa de traduzir em música um dos mais conhecidos romances de nossa literatura e fazer jus, inclusive, ao notório conhecimento musical do escritor e às sugestões sonoras do texto.

 

Horizontes, para grande orquestra, foi composta em 1992 para as comemorações dos 500 anos do descobrimento da América. Seu título parece fazer alusão aos novos horizontes que se abririam – nem sempre auspiciosos, diga-se de passagem – com a chegada dos espanhóis a este lado do Atlântico. A peça realiza uma síntese das técnicas composicionais desenvolvidas nas diversas fases do compositor. Com caráter descritivo, tem três movimentos: no primeiro, A partida, o autor sugere o clima de ansiedade causado pela viagem, talvez sem retorno, quando utiliza combinações musicais atonais e pontilhistas que se desenvolvem até atingir uma massa sonora vigorosa com trompetes, em combinações neotonais. O segundo movimento, A espera, é uma canção (ou modinha) nostálgica e pungente em modo menor, em alusão ao aspecto de calmaria, em uma opção neorromântica ou neotonal.

 

O terceiro movimento, A descoberta, inicia-se com um solo de clarinete evocando o canto e o voo de um pássaro solitário que anuncia a terra firme. A seguir o autor desenvolve uma seção minimalista que sugere a ansiedade frente ao mundo novo e, após um tutti com caráter épico, direciona a obra para uma finalização novamente em estado de calmaria, realizando ainda a síntese de atonalismo (o desconhecido) e neotonalismo (o conhecido). Em toda a composição o autor articula, com grande mestria, a diversidade de timbres da grande orquestra, explorando-os de modo expressivo, o que valoriza sobremaneira a obra, possibilitando novos horizontes de escuta.

 

Horizontes teve sua estreia em 1993, dentro da programação da Bienal Brasileira de Música Contemporânea, com a Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro sob direção de Mário Tavares, no Theatro Municipal.

 

Edilson Vicente de Lima
Doutor em Musicologia pela USP, Mestre em Artes pela Unesp, professor na Universidade Federal de Ouro Preto.

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