Horizonte

Carlos dos SANTOS

14 min

3 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, clarone, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, celesta, harpa, cordas.

Carlos dos Santos, nascido em São Paulo, retoma a tradição clássica do intérprete compositor. Percussionista, atua junto a diversos grupos musicais e, graças à formação híbrida, expressa-se segundo diferentes estilos. Aos cinco anos iniciou os estudos musicais com seu pai. Aos sete, ingressou na Universidade Livre de Música Tom Jobim, atual Emesp. Ali se formou em percussão erudita e em percussão popular. Na música popular, colaborou com o grupo Palavra Cantada, de Paulo Tatit e Sandra Peres, e com o inovador violonista Eduardo Agni. Aluno de percussão da ECA/USP, sob orientação de Ricardo Bologna, Carlos dos Santos esteve sempre envolvido com o trabalho orquestral. Atuou como bolsista da Orquestra Jovem Tom Jobim e da Orquestra Jovem do Estado de São Paulo, e como timpanista da Orquestra de Câmara da ECA/USP. Paralelamente, contribuiu para o Percussivo USP, grupo de repertório contemporâneo de alunos de percussão. Carlos dos Santos é o percussionista do Ensemble Nuevo, projeto do Instituto Goethe de intercâmbio musical que reúne músicos da Argentina, Brasil, Chile, Venezuela e Alemanha, num grupo versátil dirigido pelo compositor chileno Pablo Aranda.

Seu trabalho composicional, embora recente, tem sido amplamente reconhecido. Carlos dos Santos por duas vezes recebeu o Prêmio de Composição Clássica da Funarte, o que lhe garantiu a participação na XIX Bienal Brasileira de Música Contemporânea, com sua Nordestina nº 1, para violino solo. Com a obra O Fandango Mutante, foi finalista do I Concurso de Música Sinfônica do Paraná. Venceu o II Concurso de Composição da Ocam e obteve menção honrosa, na categoria trio, do Concurso de Composição do Panorama da Música Atual, da UFRJ. Compositor ávido, experimenta diversas tendências estéticas a fim de dar forma ao seu próprio estilo. É tributário confesso de compositores brasileiros de destaque na segunda metade do século XX que não se furtaram a livres experimentações estéticas: Almeida Prado, Arrigo Barnabé, Eduardo Guimarães Álvares, Mário Ficarelli, Marlos Nobre, Roberto Victório e Aylton Escobar. Este último foi responsável por parte importante de sua orientação formal. Sua poética move-se pelo prazer e pelo desejo de fugir à indiferença através da provocação de impressões sensíveis.

A obra Horizonte foi composta por encomenda da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, como premiação da quarta edição do Festival Tinta Fresca, de 2012. Trata-se de uma homenagem à cidade de Belo Horizonte. Sua topografia ondulada é traduzida em modulações métricas, mudanças nos apoios musicais, e a noção plena de horizonte, sugerida pela valorização dos elementos melódicos, ou seja, do plano horizontal da obra. A orquestração e o trabalho melódico inspiram-se na proposta de Dutilleux em Timbres, Espaço, Movimento ou A Noite Estrelada que, pela configuração inabitual da orquestra, sem violinos e violas, e pelo uso de solos instrumentais, busca reproduzir espaço e movimento, como sugeridos no quadro homônimo de van Gogh. A instrumentação de Horizonte difere de A Noite Estrelada, no entanto, pela presença das violas. A obra dialoga com as Variações Enigma, de Edward Elgar: inicia-se pelo tema no contrabaixo, o “enigma” deformado, do qual se desdobram variações em estilo rapsódico. Vislumbra-se técnica e intuição em um mesmo horizonte.

Igor Reyner
Pianista, Mestre em Música pela Universidade Federal de Minas Gerais.

Olho:
[Carlos dos Santos] é tributário confesso de compositores brasileiros da segunda metade do século XX que não se furtaram a livres experimentações estéticas. Sua poética move-se pelo desejo de fugir à indiferença através da provocação de impressões sensíveis.

Este olho está maior. Se não couber, parar em “experimentações estéticas”.

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