Claudio Santoro
Instrumentação: Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, clarone, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, piano, cordas.
Compositor prolífico e talentoso, distinto violinista e maestro, Claudio Franco de Sá Santoro, ou Claudio Santoro, é um dos mais destacados compositores brasileiros. Vieram do berço os dons da sua arte: a mãe, brasileira, era formada em piano e pintura; o pai, italiano, dotado de bom ouvido musical, tocava piano e cantava. Ele, o pai, se chamava Giotto Michelangelo – provável homenagem aos gênios da Renascença italiana Giotto di Bondone e Michelangelo Buonarroti. Não é de se admirar que Claudio Santoro também se dedicasse amadoristicamente à pintura. Foi nos saraus, realizados na casa em que nasceu, na capital amazonense, que o jovem Claudio estreou ao violino acompanhado pela mãe ao piano. Tinha apenas dez anos e iniciava ali, modestamente, uma longa carreira dedicada à música. O reconhecimento logo veio, e Santoro percorreu os palcos do Brasil como violinista e, após completar vinte anos, como auspicioso compositor, estimulado pelos mestres Nadile de Barros, Francisco Braga e Hans-Joachim Koellreutter.
Embora tenha recebido inúmeras premiações e convites de instituições internacionais, Claudio Santoro teve uma vida nômade e repleta de vicissitudes. A década de 1950 foi uma das mais turbulentas: após estudar em Paris e assumir, no Brasil, a fazenda de seu sogro, atuou como spalla da Orquestra Sinfônica Brasileira, no Rio de Janeiro. Posteriormente, trabalhou como compositor-arranjador na gravadora Odeon, na Rádio Clube do Brasil e na Multifilmes, esta última em São Paulo. As trilhas de cinema compostas por Santoro na Multifilmes renderam-lhe diversas premiações, dentre elas a Medalha de Ouro da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro. Nesse período, iniciou a primeira etapa de sua fase nacionalista, caracterizada pela pesquisa do idioma folclórico brasileiro. A nova orientação estética, fruto da inquietude pessoal do compositor – em termos filosóficos, emocionais e políticos – o fez retornar à linguagem mais simplificada e incorporar à sua música expressões da cultura popular, como o baião, o maracatu e o frevo.
O vocábulo frevo nasceu da pronúncia errada do verbo ferver. Assim, na primeira década do século XX, da frevança da folia nascia a principal dança coreográfica de rua do Carnaval recifense. Diversos compositores se encantaram pela energia melódica e o poder rítmico dessa dança. Santoro, em 1951, denominou Frevo o movimento final de seu Concerto para piano nº 1. Em agosto de 1953, na capital paulista, compôs o Frevo para piano solo, peça curta e vigorosa, dedicada ao pianista Oriano de Almeida e estreada somente em 1961 por Iris Bianchi. Em 1978, o Frevo foi arranjado para dois pianos e, em novembro de 1982, transcrito para piano, cordas e percussão; no mesmo ano, foi ampliado para grande orquestra. Nessa época, Santoro residia em Brasília, embora demitido da Orquestra do Teatro Nacional de Brasília – que hoje leva o seu nome. A versão sinfônica do Frevo demonstra suas qualidades como orquestrador, a exuberância da escrita para percussão e metais e a pujança de seu estilo nacionalista.
Marcelo Corrêa
Pianista, Mestre em Piano pela Universidade Federal de Minas Gerais, professor na Universidade do Estado de Minas Gerais.