Aaron COPLAND
Copland atravessou o século XX e viveu constantes mudanças políticas e estilísticas que o influenciaram profundamente. Criou um estilo norte-americano próprio, sintetizando influências das músicas judaicas, negro-americanas, anglo-americanas e latino-americanas. Criticava tanto a intelectualidade excessiva quanto a afetação romântica na música. Identificava-se com a imagem, atribuída a Schubert, de Beethoven como um compositor que alcançou “soberba frieza sob o fogo da fantasia criativa”.
Foi profundamente influenciado por Nadia Boulanger, com quem estudou em Paris entre 1921 e 1924. Admirava-lhe a ampla compreensão da literatura musical, o senso de clareza, elegância e continuidade formal: “la grande ligne”. Pôde discutir filosofia, literatura e estética em seus “chás das quartas-feiras”, tomando contato com músicos e escritores, como André Gide, que lhe causou forte impressão.
O intenso intercâmbio com compositores de diferentes países, e com o que se fazia de mais avançado em termos musicais na Europa, fertilizou o trabalho que viria a desenvolver mais tarde nos EUA. Referência para seus colegas americanos, Copland abriu mão de uma posição segura de professor universitário acreditando na possibilidade de viver de suas composições. Tornou-se integrante ativo da Liga de Compositores de Nova York, escrevendo intensamente para o Modern Music e para outras revistas especializadas. Fomentou espaços diversos para a difusão da música de seu tempo e fez da abrangência e da diversidade não apenas determinantes estéticas, mas imperativos éticos. Organizou festivais e séries de concertos (Copland-Sessions Concerts, Yaddo Festival), foi supervisor de publicação de música contemporânea americana (Cos Cob Press), tornou-se líder da American Composer Alliance e cofundador do American Music Center.
De especial importância em sua vida foram os anos 1930, quando viajou e viveu com o fotógrafo Victor Kraft, de quem não se separaria até meados dos anos 1940. A Grande Depressão aproximou-o das ideias socialistas. E quando em 1932 visitou pela primeira vez o México, encontrou inspiração nas pessoas e no governo revolucionário. Seu estilo americano próprio combinava com sua inclinação para os estilos nacionais em geral. Declarava que o ouvinte tinha “profunda necessidade psicológica” de encontrar “a nota” que faz a música “caracteristicamente sua”. Balés, trabalhos patrióticos e obras ligeiras como El Salón México trouxeram-lhe a aclamação da crítica e do público na passagem da década.
Trabalhou na composição sinfônica de El Salón México, “cartão-postal sonoro”, menos essência nacional do que “impressões turísticas”, de 1932 a 1936. Ao invés de canções que ouviu, utilizou ideias extraídas das partituras de El palo verde, La jesusita, El mosco e El malacate. O refrão de El palo verde aparece três vezes na passagem de uma ideia a outra neste conjunto de temas mexicanos. O pensamento composicional desta fantasia para orquestra revela-se na frase de Copland: “eu não componho, eu reúno materiais”. Leonard Bernstein arranjou a obra para piano solo, para piano a quatro mãos e para dois pianos. Carlos Chávez estreou-a com a Orquestra Sinfónica de México em 1937. A obra, de sugestões por vezes dançantes, leva o nome da tradicional casa mexicana, El Salón México: uma típica e popular casa de dança na Cidade do México.
Igor Reyer
Pianista, Mestre em Música pela Universidade Federal de Minas Gerais.