Huapango

Pablo Moncayo

(1941)

 

A morte do compositor José Pablo Moncayo em 1958 é, para os mexicanos, o fim do nacionalismo musical. Em 1928 Carlos Chávez fundara a Orquestra Sinfónica de México, que foi um eficiente instrumento de difusão da música mexicana e que lançou o movimento nacionalista. A morte de Moncayo, última marca desse movimento, sublinha o enfraquecimento dos ideais nacionais da Revolução Mexicana.

 

Sugestionado por seus primeiros professores, Moncayo deixa Guadalajara rumo ao Conservatório Nacional, na Cidade do México. Em vias de renovação, o Conservatório oferecia em 1931 o curso de Criação, idealizado por Chávez, que mais tarde o transformou em Oficinas de Composição. Entre colegas e discípulos, os mais expressivos compositores mexicanos davam corpo ao curso: Vicente T. Mendonza, Candelario Huízar, Silvestre Revueltas; e os jovens, Daniel Ayala, Blas Galindo, Salvador Contreras e José Pablo Moncayo. Após a mudança presidencial que afastou Chávez do cargo de diretor do Conservatório Nacional, em 1934, os mais jovens se organizaram como um grupo artístico de resistência, o “Grupo de los Cuatro”. Inicialmente motivado contra o fim das Oficinas de Criação, o Grupo tornou-se, muito rapidamente, um conjunto expressivo junto aos ouvintes e músicos mexicanos, enquanto promotores da música de seu tempo. Seus concertos foram determinantes na elaboração de uma linguagem tipicamente nacional. Além da composição, Galindo e Moncayo desenvolveram um trabalho substancial como regentes da Orquestra Sinfónica de México. A partir de 1931, Moncayo trabalhou vários anos nessa orquestra como percussionista, tendo assumido sua direção artística em 1944 e, entre 1949 e 1954, o cargo de diretor musical e regente.

 

Considerada a mais emblemática obra do nacionalismo mexicano, Huapango foi composta em 1941, a pedido de Chávez, que sugeriu que a peça se inspirasse na música popular da costa sudeste. Ele buscava completar o programa do concerto denominado Tradicional Música Mexicana, organizado para a Orquestra Sinfónica de México. Em busca da fidelidade às referências populares, Chávez enviou Moncayo para Veracruz, no desejo de que ele, numa pesquisa de campo, coletasse material de música popular da região. Moncayo fixou-se em Alvarado, onde a música folclórica se mantinha puramente preservada. Ali, trabalhando com Galindo, registrou os ritmos, as melodias e as instrumentações características. Moncayo, entretanto, confessou a dificuldade do trabalho, uma vez que os huapangueros – músicos da região – jamais repetiam as melodias, apresentado-as sempre de forma nova. Huapango é a elaboração criativa desse material, especialmente das danças folclóricas El siquisirií, El Balajú e El Gavilán. Por sugestão de Huízar, um de seus professores de Composição, Moncayo primeiramente expõe o material folclórico como escutado e elabora-o, em seguida, a partir de suas propostas estéticas, resguardando certa liberdade de ideias. A obra foi estreada em 15 de agosto de 1941, no Palacio de Bellas Artes. Huapango significa “sobre o tablado” e é uma dança mexicana das festas populares de algumas regiões costeiras. Ao longo do nacionalismo mexicano, o termo “huapango” foi usado diversas vezes como referência a um gênero musical típico de Alvarado. Contudo, “huapango” é, literalmente, festividade. Em Moncayo, a celebração da cultura mexicana.

 

Igor Reyner
Pianista, Mestre em Música pela UFMG, doutorando de Francês no King’s College London e colaborador do ARIAS/Sorbonne Nouvelle Paris 3.

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