Concerto para violino nº 4 em Ré maior, K. 218

Wolfgang Amadeus MOZART

(1775)

Instrumentação: 2 oboés, 2 trompas, cordas.

Mozart aprendeu a tocar cravo aos quatro anos de idade e aos cinco compunha suas primeiras peças ao instrumento. Aos seis era um virtuose do teclado e logo viria a se tornar também excelente organista e violinista, além de aprender a tocar outros instrumentos para uso doméstico. Aos oito compôs sua primeira sinfonia, aos onze, o primeiro concerto para piano e, aos doze, a primeira ópera. Seu talento musical era tão extraordinário que seu pai, além de violinista, compositor e autor de um famoso tratado sobre a arte de tocar violino, abandonou todas as ambições e dedicou-se a ensinar o garoto e a transformá-lo em músico de sucesso.

Compor, para ele, era um prazer e o fazia com grande facilidade. Mas, por outro lado, Mozart era extremamente consciente das exigências musicais de seu tempo. A música, na Áustria, era fortemente patrocinada pela aristocracia local. Tratava-se de uma arte que deveria ajustar-se aos padrões culturais da sociedade que a consumia. Ou seja, a música precisava proporcionar encanto e prazer ao ouvinte e as inovações não deveriam ser bruscas, e sim bastante suaves para se acomodarem ao lento processo de assimilação dessa sociedade.

Assim, Mozart, como todos, compunha para os seus contemporâneos, isto é, para agradar o público e pagar suas contas. Só nos séculos XIX e XX o ofício de compositor, como conhecido por Mozart, Haydn e tantos outros, viria a ser substituído pelo conceito do gênio inalcançável, que compõe para a posteridade. Portanto, as obras de Mozart eram geralmente compostas sob encomenda, para ocasiões específicas. Mesmo quando não se destinavam à execução imediata, ele tinha sempre em mente o intérprete que desejava e o público potencial.

O Concerto para violino no 4 foi composto quando Mozart contava dezenove anos de idade e era músico da Orquestra da Corte de Salzburgo. Não há registros da primeira execução e, não tendo sido dedicado a nenhum violinista, muito provavelmente foi composto para execução pelo próprio autor. O gênero concerto remonta à escola italiana de concertos do início do século XVIII, quando grandes violinistas, como Torelli, Vivaldi, Geminiani, Tartini e Nardini, criaram um tipo de concerto solístico de extrema dificuldade técnica e repleto de vivacidade, lirismo e graça.

O primeiro movimento (Allegro) inicia-se com um imponente tutti orquestral. Em seus concertos Mozart considerava praticamente indispensável uma introdução da orquestra antes da entrada do solista. Quando o violino aparece pela primeira vez, executa o tema do início no registro agudo, o que lhe confere um sabor mais gracioso. O registro grave é poupado para momentos especiais ao longo do movimento.

O segundo movimento (Andante cantabile) é tranquilo, doce e cheio de ternura. Com seu intenso lirismo contém algumas das mais belas melodias de Mozart. Gostaríamos que ele não acabasse nunca… Mas o terceiro movimento (Andante grazioso), quando surge, mostra-se à altura dos outros dois. Trata-se de um rondó que alterna alguns momentos despretensiosos com outros de extrema elegância. Se de fato Mozart compôs este Concerto para uso próprio, pode-se ter uma boa ideia de que grande virtuose ele era ao violino.

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Composição, professor da UEMG e da FEA, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor

Olho:
O primeiro movimento inicia-se com um imponente tutti orquestral. Em seus concertos Mozart considerava praticamente indispensável uma introdução da orquestra antes da entrada do solista.

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