Concerto para violino nº 5 em lá menor

Nicolò Paganini

(1830 | Reconstruído por Federico Mompellio em 1959)

Instrumentação: piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão e cordas.

 

Desde sua primeira aparição em público, aos oito anos, Niccolò Paganini tornou-se exemplo máximo de virtuosidade ao violino, povoando o imaginário daqueles que o associavam ao sobrenatural e influenciando os mais importantes compositores da geração romântica europeia. Schumann, Berlioz, Liszt, Chopin, Brahms são alguns dos nomes que almejaram a perfeição técnica e a criatividade melódica do virtuose italiano. Todos eles prestaram homenagem a Paganini por meio de transcrições, paráfrases ou citações de suas obras.

 

A música de Paganini, tendo em vista sua estrutura melódica, é estilisticamente operática e rossiniana. O próprio Rossini, que conhecera o célebre violinista, alertava: se Paganini compusesse óperas, “todos nós, compositores, estaríamos em apuros”. Devemos a Paganini a invenção de um novo gênero musical, uma espécie de estudo de concerto, que alia bravura virtuosística, técnica apurada e inspirado conteúdo musical. Os 24 Capricci para violino solo, a primeira obra publicada de Paganini, são verdadeiros estudos dedicados agli artisti, aos executantes de alto nível. Paganini maximizou as possibilidades do violino com oitavas, décimas, harmônicos, pizzicati com a mão esquerda combinados com a passagem de arco e demais efeitos musicais surpreendentes. Alguns deles praticamente inexequíveis, como o terrível trinado duplo em uníssono do terceiro Capriccio. Porém, a arte de Paganini, que tanto assombrava a quem o ouvia tocar, não consistia exclusivamente na dificuldade; pelo contrário, relacionava-se à facilidade e elegância com que realizava cada passagem. A despeito de sua aparência cadavérica, ele impressionava seu público com grazia, ausência de afetação e certa displicência. Tais predicados combinam bem com o termo sprezzatura, inventado pelo escritor italiano Baldassare Castiglione em seu livro O Cortesão, publicado em 1528: “É disso, creio eu, que deriva em boa parte a graça, pois, se das coisas raras e bem feitas cada um sabe as dificuldades, nelas a facilidade provoca grande maravilhamento; e, ao contrário, esforçar-se faz apreciar pouco qualquer coisa, por maior que ela seja. Pode-se dizer que é arte verdadeira aquela que não parece ser arte; e em outra coisa não há que se esforçar, senão em escondê-la”. Talvez fosse asprezzatura um dos segredos de Paganini.

 

Paganini fizera dos seus seis concertos para violino uma vitrina para exibição de sua incomparável proficiência técnica e musicalidade. O Quinto Concerto, deixado inacabado em 1830, é posterior ao Sexto Concerto, composto em 1815 e publicado postumamente. A parte do solista, única que subsistiu do Quinto Concerto, foi suficiente para o compositor e musicólogo italiano Federico Mompellio preparar toda a orquestração, obedecendo fielmente ao estilo de Paganini. A orquestração da obra foi encomendada pela Accademia Musicale Chigiana, em 1958. A partitura foi estreada com enorme sucesso no ano seguinte, tendo como solista Franco Gulli, autor da cadenza do primeiro movimento.

 

Marcelo Corrêa
Pianista, Mestre em Piano pela Universidade Federal de Minas Gerais, professor na Universidade do Estado de Minas Gerais.

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