As bodas de Fígaro, K. 492 (excertos)

(1786)

Instrumentação / Abertura: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.

Instrumentação / Porgi amor: 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, cordas.

 Instrumentação / Dove sono: 2 oboés, 2 fagotes, 2 trompas, cordas.

 

Em 1781 Mozart instala-se em Viena para cumprir os seus dez últimos anos de vida, tempos extremos em que, criando suas obras mais extraordinárias, comprovou não expressar em música as circunstâncias de sua vida, mas toda a riqueza de sua alma. As bodas de Fígaro, de Beaumarchais – comédia inicialmente denominada La Folle Journée, de grande repercussão em Paris – dava continuidade a O barbeiro de Sevilha, no bojo da efervescência que levaria à Revolução Francesa. Adaptada em 1784 por Lorenzo da Ponte, a fim de conseguir aprovação na corte de Viena, a comédia foi proposta a Mozart pelo italiano, para que sobre ela criasse uma ópera.

 

Mozart deu a cada personagem personalidade bem caracterizada. Fígaro marca a passagem da opera buffa à ópera moderna. Sua Abertura orquestral, escrita na antevéspera da estreia, tem um brilho que eletriza os ouvintes a cada execução, criando irresistível expectativa. Na breve cavatina do 2º ato – Porgi, Amor, qualche ristoro –, a Condessa de Almaviva, percebendo que perde o amor do marido, roga ao Amor algum consolo e que o devolva ou a deixe morrer. Já na grande ária Dove sono, a condessa se queixa: “Onde estão os belos tempos de doçura e de prazer? Para onde foram as juras daqueles lábios mentirosos? Se tudo, para mim, em pranto e dor se transformou, por que a memória daquele bem, em meu peito não se apagou?”. Mantendo embora o caráter geral jocoso do enredo, Mozart não deixa de destacar emoção, beleza e ternura na música que escreve.

 

Berenice Menegale
Pianista, fundadora e diretora da Fundação de Educação Artística.

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