Giuseppe VERDI
Instrumentação: Piccolo, flauta, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 4 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, cordas.
Nascido em Le Roncole, filho de modesto estalajadeiro rural, Verdi é atualmente o mais representado dos compositores de ópera. Da pequena aldeia italiana aos palcos internacionais, sua vertiginosa trajetória acompanhou-se de uma constante e coerente evolução artística: Verdi manteve-se criativo e inovador até a velhice.
Aos nove anos, o menino Giuseppe já era o organista da aldeia. Aos dezoito, suas notáveis aptidões musicais impressionaram o presidente da Sociedade Filarmônica de Busseto, uma cidade vizinha. Esse abastado comerciante, Antonio Barezzi, acolheu o jovem músico em sua casa e decidiu custear-lhe a educação musical, enviando-o para Milão. Verdi casou-se com a filha de Barezzi e uma admirável amizade, sedimentada em mútua admiração, uniu sogro e genro por toda a vida.
Na grande cidade, o jovem compositor frequentava assiduamente os teatros de óperas. Tinha vinte anos e, como foi considerado velho demais para ingressar no Conservatório de Milão, escolheu ter aulas particulares com Vincenzo Lavigna (discípulo de Paisiello, operista italiano do séc. XVIII), que inevitavelmente o aproximou ainda mais do meio operístico.
Ao todo, Verdi escreveu 26 óperas, além de música religiosa e coral. Seus primeiros títulos, Oberto e Un giorno di regno, são ainda bem convencionais; mas Nabucco, de 1842, mesmo sem romper radicalmente com o passado, atinge uma linguagem dramática muito pessoal que o compositor saberá desenvolver com sabedoria em uma sequência de obras-primas.
Na década de 1850, com o sucesso da trilogia formada pelas óperas Rigoletto, II Trovatore e La Traviata, a fama de Verdi ultrapassa as fronteiras italianas com a encomenda de As vésperas sicilianas pela Opéra de Paris (mais tarde, ele escreveria A força do destino para a Ópera de São Petersburgo e Aída para as festas da inauguração do canal de Suez).
O enredo de As vésperas sicilianas relata a ocupação de Palermo, em 1282, pelas tropas francesas do governador Monfort. Liderados pelo bravo Procida, dois jovens apaixonados, Helena e Arrigo, lutam pela libertação da Sicília. A situação torna-se mais dramática com a revelação de que Arrigo é, na verdade, filho de Monfort.
A Abertura de As vésperas sicilianas é uma das poucas peças de Verdi incorporadas ao repertório sinfônico. Seus temas são todos tirados da ópera. Assim, a melodia da breve introdução, reservada ao clarinete e aos fagotes, é ouvida no final do quarto ato, quando os monges entoam o De profundis que acompanha os conjurados ao suplício. A famosa ária de Helena (do primeiro ato) é confiada à flauta, no Largo inicial da Abertura. O rufar de tambor que anuncia com violência o Allegro agitato antecipa o massacre do final da ópera. E a melodia intensamente lírica que os violoncelos cantam a seguir reaparecerá em uma das passagens fundamentais do terceiro ato. No todo, a Abertura cria uma atmosfera de tensão angustiante.
O convite para compor para a Opéra de Paris significou para Verdi um desafio de renovação. Composta em francês sobre um libreto de Eugène Scribe e Charles Duveyrier, As vésperas sicilianas é uma obra tipicamente francesa (mesmo se executada em sua tradução italiana). O compositor deveria, portanto, submeter-se às exigências habituais do gênero: cinco atos, dois bailados, nova concepção de instrumentação e um enredo que valorizava mais as situações dramáticas que os personagens. Do alto da fama, Verdi entrava corajosamente em nova fase experimental, e o resultado, após um ano de trabalho exaustivo, enriqueceu ainda mais sua notável bagagem artística.
Paulo Sérgio Malheiros dos Santos
Pianista, Doutor em Letras pela PUC Minas, professor na Universidade do Estado de Minas Gerais, autor do livro Músico, doce músico.