Variações Sinfônicas

César Franck

(1885)

Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.

 

As Variações Sinfônicas foram escritas em curto espaço de tempo, entre outubro e dezembro de 1885. A primeira audição se deu em Paris, na Sociedade Nacional de Música, sob a regência do autor e tendo como solista o pianista Louis Diémer, a quem a composição foi dedicada. Ao lado da Sinfonia em ré menor, é a obra de César Franck mais frequentemente executada em concertos.

 

A partitura apresenta aspectos bastante inovadores. A relação piano/orquestra define-se como um verdadeiro trabalho de conjunto, distribuído entre partes iguais. O efetivo orquestral é surpreendentemente leve, e o piano dele participa organicamente, embora desempenhando papel privilegiado. Formalmente, César Franck distancia-se do tradicional tema variado, abandonando o procedimento habitual de agrupar, em seções contrastantes, variações tecidas sobre diferentes aspectos de um mesmo tema. Nas Variações Sinfônicas o discurso musical torna-se ininterrupto, elaborado pela interligação de três grandes partes que se poderiam denominar Prólogo, Variações e Final.

 

O Prólogo, Poco allegro, apresenta dois temas: o primeiro, enunciado pelas cordas (fá sustenido menor) é interrogador, brutal, rítmico e cortante. O segundo, confiado ao piano, tem caráter lânguido, terno, melodioso e lírico. O contraste entre esses motivos antitéticos resulta violento e constitui o material temático essencial da composição. O Prólogo se desenvolve de forma rapsódica, criando clímax, antes que se apresentem as variações em novo movimento, mais moderado.

 

O tema fundamental das Variações, Allegretto quasi andante, surge no piano, em acordes característicos de seu aspecto coral. Na Primeira Variação, o solista reelabora esse tema, em diálogo fragmentado com as cordas e as madeiras. A Segunda Variação ressalta o tema no Molto cantabile das violas e violoncelos, sobre um plano de madeiras, metais e os desenhos contrapontíscos do solista. Na Terceira Variação, o piano torna-se mais animado, enquanto o tema insinua-se nos acordes discretos e abafados da orquestra. Após um tutti conclusivo, a Quarta Variação se apresenta como ponto particularmente estratégico da construção formal, trazendo o retorno do motivo inicial da obra, retirado do Prólogo. Esse tema, novamente evocado, desenvolve-se altivo, na tonalidade de Ré maior, em crescendo de grande efeito, metalizado e ritmado por toda a orquestra. A Quinta Variação, bastante condensada, utiliza novamente o fá sustenido menor inicial, restaurando o clima de ternura e paz. Na Sexta Variação, os violoncelos, acompanhados por suaves ondulações do piano, conduzem a um momento de recolhimento, misteriosamente contemplativo.

 

Um importante episódio de transição, verdadeiro interlúdio, cria engenhosa ponte para a última das três seções formais da obra. O Final, Allegro non troppo, retoma o tom maior e surge alegremente sobre trinados do piano. Os temas principais passam por novas e surpreendentes transfigurações, acumulando sutilezas tonais e desencontros rítmicos. A Coda conduz a um Molto crescendo sobre a tônica, levando à conclusão alegre e brilhante.

 

Paulo Sérgio Malheiros dos Santos
Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado. Apresenta o programa semanal Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.

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