Tasso: lamento e triunfo

Franz Liszt

Em 1842, o húngaro Franz Liszt (1811–1886) foi nomeado mestre de capela da corte da cidade de Weimar, na Alemanha, cidade onde seis anos mais tarde decide fixar residência. No período de Weimar, Liszt abandona substancialmente os concertos em que divulgava a si próprio e às suas composições, passando a consagrar sua atividade a seus contemporâneos, independentemente de seus gostos ou simpatias pessoais: de Schumann, seu feroz opositor, monta a ópera Genoveva; de Berlioz, seu amigo, faz soar as principais obras; do então jovem compositor Camille Saint-Saëns, leva ao palco Sansão e Dalila; de Wagner, faz a primeira apresentação de Lohengrin. A propósito, foi também nesse período que Liszt conheceu Richard Wagner (1813–1883). Entre ambos se estabeleceu, desde então, uma profunda amizade. Na verdade, Wagner deve muito mais a Liszt do que os wagnerianos se permitem admitir, estética, moral e materialmente, sem desmerecimento, porém, do gênio e das conquistas estéticas deste grande e visionário compositor alemão.

 

A obra de Liszt é muito mais importante do que se pensa ordinariamente. De fato, ela é sempre associada à imagem deformada chegada até nós (que, em certo sentido, ele mesmo ajudou a construir) de uma personalidade inquieta e do virtuose de habilidades sobrenaturais. Liszt foi, na verdade, uma alma integralmente romântica e, com isso, pôde, de forma radical, dar as costas à tradição, subvertendo a métrica, a forma, a técnica instrumental, a harmonia e a tonalidade: em suas últimas obras para piano, por exemplo, não é exagero dizer que já se antevê o atonalismo.

 

É também no período de Weimar que Liszt produz o segundo de seus doze poemas sinfônicos. Tasso: lamento e triunfo, obra composta e revista entre 1849 e 1851, tem seu argumento fundamentado em duas obras literárias importantes: o drama de Goethe intitulado Torquato Tasso e o poema de Byron sobre a vida e a obra de Tasso, polêmico poeta da Itália quinhentista. Para além de quaisquer esquemas programáticos, porém, essa obra de Liszt garante, por si só, qualidades musicais que se sustentam autônomas.

 

Moacyr Laterza Filho

anterior próximo