Francisco MIGNONE
Instrumentação: Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, clarone, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, piano, cordas.
Filho de imigrantes italianos, Francisco Mignone teve suas primeiras lições de música ainda criança, com o pai, Alfério Mignone, competente flautista da Orquestra Municipal de São Paulo. Estudou piano, flauta e composição no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. Em 1920 foi agraciado com uma bolsa para prosseguir seus estudos na Europa. Ali estudou composição com Vincenzo Ferroni, ex-aluno de Jules Massenet e renomado professor do Conservatório de Milão. Na Itália compôs inúmeras obras, inclusive duas óperas. De volta ao Brasil, em 1928, tornou-se professor de harmonia do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo e amigo íntimo de Mário de Andrade.
Terminava aí a sua primeira fase composicional, de caráter italiano, para iniciar a segunda, de cunho nacionalista, sob forte influência do poeta paulistano. Em 1933 transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde viria a dirigir o Teatro Municipal e a Rádio do Ministério da Educação e Cultura, além de lecionar regência na Escola Nacional de Música. Nessa fase, que duraria de 1929 até aproximadamente 1960, Mignone comporia algumas de suas mais importantes obras e ganharia reputação internacional como compositor e regente – chegou a reger algumas das mais importantes orquestras norte-americanas e europeias.
A partir de 1960, Mignone afasta-se progressivamente do envolvimento direto com o material de cunho nacionalista e parte para a experimentação livre. Essa será sua terceira e última fase, em que chama atenção a diversidade de processos composicionais utilizados por ele na busca de um discurso universal sem, no entanto, perder de vista o colorido brasileiro.
Em carta ao musicólogo Vasco Mariz, Mignone escreve: “Tudo se pode realizar em arte, desde que a obra traga uma mensagem de beleza e deixe no ouvinte a vontade de querer ouvi-la mais vezes. Não acontece isso também nas outras artes?”.
Considerado por Mário de Andrade como um dos maiores compositores brasileiros de sua época, Francisco Mignone compunha uma música espontânea, de uma felicidade contagiante. A Sinfonia tropical, em um movimento, pertence ao final de sua fase nacionalista. Ao longo de seus quase vinte minutos de duração, a Sinfonia tropical se desenvolve em vários quadros curtos, quase como uma fantasia, com coloridos singulares e atmosferas contrastantes. A temática brasileira se apresenta na escolha do tema principal, de caráter nordestino, que volta e meia reaparece em diferente orquestração, como forma de ligação entre as diversas seções. Uma música exuberante, com orquestração requintada, na qual podemos perceber a mistura de arroubos sinfônicos à maneira de Villa-Lobos com o refinamento orquestral de Ottorino Respighi e certo primitivismo stravinskyano.
Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.