Franz SCHUBERT
Mestre do Romantismo, nasceu Franz Schubert em Lichtental, subúrbio de Viena. Seu pai, mestre-escola, e os irmãos mais velhos o iniciam no conhecimento da música, no piano e no violino. Logo o encaminham ao mestre de coro da paróquia, que se espanta com a facilidade da criança. Sua linda voz e seu preparo lhe propiciam o ingresso, em 1808, no Stadt Konvikt (internato de ensino geral e música) e no coro da capela da Corte Imperial como menino cantor, passando a fazer ali toda a sua formação.
O Konvikt mantém uma orquestra completa, na qual Franz se exercita e trava conhecimento com a música de Haydn, Mozart, Beethoven, entre outros autores em voga. Então o adolescente Schubert já demonstra sensibilidade de artista ao protestar contra peças medíocres incluídas no repertório, e, por outro lado, ao entusiasmar-se com os grandes compositores. É conhecida sua exclamação após uma boa execução da abertura de “Le Nozze di Figaro”: – É a mais bela ouverture do mundo!.
No internato, onde permaneceu até 1813, Schubert faz suas primeiras amizades sólidas e escreve, em 1810, a composição que vai inaugurar o seu catálogo de obras: uma Fantasia para piano a quatro mãos. Compõe cada vez mais e toma consciência de sua vocação criadora. Nascem aberturas para orquestra, canções, trios e quartetos vocais, música para cordas, peças para piano. Em 1813 Schubert deixa o Konvikt e prepara-se para “assistente de mestre-escola”. Produz sempre muita música, inclusive, em 1814, “Seis Lieder sobre textos de Goethe”, que incluem o célebre “Gretchen am Spinnrade” (Margarida à roca). A 1ª. Sinfonia, em ré maior, foi escrita em 1812, portanto aos 15 anos, ainda sob a influência inequívoca dos clássicos Haydn e Mozart. Suas Sinfonias mais célebres são a 4ª (Trágica) – de 1816, quando o compositor começou a conhecer a obra de Beethoven; a em si menor (Inacabada) e a grande em Dó maior, última da série.
Schubert, quando conseguiu libertar-se de seu ofício e passou a viver só de música, atingiu o estágio que todo criador almeja. Ele não era nem executante nem dava aulas de música – vivia para criar. Em sua curta existência deixou uma obra enorme. Os mais de 600 Lieder que compôs demonstram um amor excepcional por esse gênero e, mais importante que isso, encontram-se entre eles numerosíssimas obras-primas, de inspiração inigualável. Schubert deu ao gênero Lied um tratamento pianístico profundamente integrado à sua interpretação dos poemas. Mas é necessário lembrar que, assim como jorravam de sua mente tantas canções, ele criou um grande número de obras-primas na música de câmara, nas peças curtas e Sonatas para piano, nas Missas, Cantatas, Ópera, todos os gêneros, enfim.
Personalidade afetuosa, vivendo cercado de amigos que o adoravam, Schubert era despretensioso ao extremo. Tinha, no entanto, plena consciência de seu valor e, por isso, só quis viver de música. Morreu aos 31 anos, como um dos maiores compositores de todos os tempos.
O manuscrito da Sexta Sinfonia – depois chamada “Pequena” em contraposição à grande Sinfonia em Dó maior (1828) – traz a indicação “Grosse Sinfonie” (Grande Sinfonia), o que se explica por sua dimensão, mais ampla que as anteriores. Foi escrita para a orquestra particular de Otto Hatwig (violinista que abrigava os grupos de música de câmara de Schubert), que a estreou na primavera de 1818.
Começa com uma ampla Introdução adagio, mostrando diferença sensível em relação às Sinfonias anteriores e influência de Beethoven. As madeiras introduzem o 1° tema do allegro; o 2° é pouco contrastante, e ambos cheios de leveza. O movimento termina com uma coda. O andante, em Fá, contém um belíssimo trabalho de modulação e um tratamento rítmico que se alia à instrumentação especialmente inventiva e que mostra Schubert senhor da música orquestral. O scherzo (movimento pela primeira vez incluído por Schubert nas sinfonias) se apresenta com vigor e espírito beethovenianos. O final, allegro moderato é um rondó irresistível.
Berenice Menegale
Pianista, Diretora da Fundação de Educação Artística.