Wolfgang Amadeus MOZART
A breve e agitada vida de Wolfgang Amadeus Mozart começou como um conto de fadas. Nascido em Salzburg, desde a idade de três anos o lindo menino, terno, muito imaginativo e ansioso por aprender tudo à sua volta, manifestou dons excepcionais para a música. O pai, violinista, compositor e professor respeitado, autor de um consagrado método para seu instrumento, soube explorar o excepcional talento do filho, unindo ambição, orgulho paterno e zelo educativo. Assim, enquanto o jovem prodígio apresentava-se em longas e triunfais tournées, ao mesmo tempo aprimorava e diversificava sua formação musical, estudando com mestres como Schobert (Paris), Johann C. Bach (Londres), Gianbattista Sammartini e o Padre Martini (Itália). Ainda muito jovem, Mozart conhecia as mais importantes correntes musicais da época, além de personalidades como Goethe e os irmãos Grimm.
A convivência com ambientes e celebridades tão diversificados deixaram marcas permanentes em sua personalidade. E o compositor nunca se moldará ao ambiente salzburguês. Depois de algumas viagens e muitas brigas, a ruptura com o arcebispo de Salzburgo tornou-se definitiva, em 1781. Mozart conquistava, enfim, a liberdade. Mas pagava por ela um alto preço: ao libertar-se do patrão tirano, o compositor abria mão de sua segurança financeira e assumia um risco profissional ainda inédito para os músicos de sua época. Em Viena, a vida desse primeiro e genial free-lancer marcou-se pela instabilidade econômica, dívidas, às vezes pela mais penosa miséria, a morte de quatro filhos recém-nascidos, intrigas de rivais invejosos e humilhantes pedidos de empréstimos. Não é mais o menino prodígio que provocava entusiasmo incondicional, e os fracassos presentes tornam-se mais dolorosos, comparados aos triunfos que conquistara quando criança. Como sempre, Mozart compõe incansavelmente e procura agradar ao público. Entretanto, mesmo em suas peças mais circunstanciais, a forte personalidade do autor impõe-se, dando-lhes um encanto especial, uma naturalidade e vivacidade sem limites. Quando se sentia livre para expressar os sentimentos mais íntimos, Mozart revela, principalmente em alguns aspectos trágicos ou melancólicos de sua música, uma profunda humanidade e um extraordinário senso dramático.
A Sinfonia “Linz” foi escrita em três dias! Em 1783, Mozart e sua mulher, Constança, fazem uma viagem a Salzburgo, para verem o pai e a irmã do compositor. No regresso a Viena, o casal detém-se em Linz, em visita ao velho conde de Thun, grande amigo da família. O conde queria muito que Wolfgang se apresentasse com a orquestra local, mas Mozart não tinha nenhuma de suas partituras à mão. Desejoso de agradecer a boa acolhida, começa uma nova sinfonia e consegue estreá-la no dia programado. Obra, portanto, de circunstância, a Sinfonia “Linz” não revela em sua fatura o menor vestígio de precipitação. Ao contrário, com sua perfeição formal e força expressiva, inicia a última fase das sinfonias mozartianas. Mozart compôs quarenta e uma sinfonias; a primeira, quando tinha apenas oito anos e as três últimas, em 1788. Sua produção acompanha todo o desenvolvimento desse gênero, ao longo da segunda metade do século XVIII. O caminho percorrido nesse campo pelo compositor foi tortuoso (ao contrário do desenvolvimento linear de outras suas séries, como a dos concertos para piano) e revela hesitações, alterna rupturas e voltas à tradição, até chegar à definitiva maestria de suas últimas sinfonias, todas perfeitas e inteiramente diversas entre si.
Mozart morreu em Viena antes de completar trinta e seis anos e foi enterrado em uma vala comum. Deixou-nos um universo de obras primas, ímpares em sua beleza e definitivamente incluídas entre os mais preciosos tesouros do patrimônio artístico da humanidade.
Paulo Sérgio Malheiros Santos