Sinfonia nº 2 em Ré maior, op. 43

Jean SIBELIUS

(1901/1902)

Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, cordas.

 

Quando jovem, Sibelius passou dois anos estudando música em Viena. Na capital austríaca, o que mais lhe chamou atenção foi a luta fanática dos wagnerianos contra os brahmsianos. A morte de Wagner, sete anos antes, não havia acirrado os ânimos; porém, em Viena, na ausência do mestre venerado, os wagnerianos tinham uma lenda viva em quem se apoiar: Anton Bruckner, a quem Sibelius não chegou a conhecer pessoalmente. O jovem estudante tinha uma carta de apresentação de Busoni para Brahms, por quem tentou insistentemente ser recebido, sem sucesso. Brahms já não tinha entusiasmo em dar conselhos a jovens talentos. Sibelius acabou conhecendo-o, por acaso, no Café Leidinger, na época o café mais famoso da cidade, mas Brahms não demonstrou interesse pelo rapaz. Como Sibelius não se sentisse pertencente a qualquer uma das facções – Wagner ou Brahms –, estudou composição com um professor wagneriano e orquestração com um brahmsiano…

 

Sibelius viveu intensamente seu tempo em Viena. Johann Strauss filho tinha 65 anos na época e ainda costumava reger suas valsas com a vitalidade de um jovem. Sibelius apaixonou-se pelas valsas do velho mestre, uma paixão que ele guardaria por toda a vida. Escreveu: “Viena, naquela época, era ainda a velha Viena. Uma cidade que vivia inteiramente de música. A força das tradições musicais era enorme. A atmosfera estava repleta de memórias, não apenas dos dias de Schubert e Beethoven, mas também do tempo de Mozart”.

 

Sibelius começou a compor sua Segunda Sinfonia no ano de 1900, na Itália. A composição ficou pronta apenas em janeiro de 1902. A estreia, com a Sociedade Filarmônica de Helsinque, sob a regência do compositor, marcada para aquele mês de janeiro, teve de ser adiada para 8 de março. A obra foi reapresentada nos dias 10, 14 e 16, e os ingressos estavam esgotados para todas as apresentações. Jamais uma obra nova havia obtido tanto sucesso na Finlândia.

 

Com sua Segunda Sinfonia, pode-se dizer que Sibelius começou seu desenvolvimento propriamente sinfônico. Antes, sua ênfase maior estava na música de câmara, o que fazia com que sua escrita orquestral fosse muito camerística. Sibelius evitava falar de suas obras. Para ele, “as composições são como as borboletas: se você tocá-las, elas perdem a essência. Elas ainda serão capazes de voar, mas não serão mais tão leves”. Comparar Sibelius com qualquer outro compositor é uma tarefa extremamente difícil, pois suas obras possuem atmosferas e cores completamente novas e diferentes. Nada comparável ao que os outros compositores faziam em sua época. Sua primeira sinfonia ainda contém traços de Tchaikovsky e Bruckner, mas a Sinfonia nº 2 é definitivamente uma obra original, prova de que nenhum gênero musical é tão antigo que não possa ser sempre trabalhado e renovado. Bastou a força do talento de um compositor como Sibelius para trazer novos ares para a Sinfonia. A Sinfonia nº 2 foi revisada pelo compositor logo após a estreia, e a nova versão teve sua primeira apresentação em Estocolmo, em 10 de novembro de 1903, regida pelo irmão de sua esposa, o compositor e regente Armas Järnefelt.

 

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

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