Sinfonia nº 1 em Dó maior, op. 21

Ludwig van BEETHOVEN

(1800)

Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.

 

Beethoven fixou-se definitivamente em Viena aos 22 anos e, inicialmente, foi como pianista que ele se destacou, buscando a admiração do público e de seus patronos. Oito anos depois, quando regeu a estreia de sua primeira sinfonia no Teatro Imperial, o compositor já se afirmara – mesmo reconhecendo sua dívida enorme para com Haydn e Mozart – como um artista inquieto, em busca dos próprios ideais. A maioria dos ouvintes contemporâneos reagiu com assombro e incompreensão às suas inovações.

 

Na Sinfonia nº 1, uma introdução, Adagio molto, abre a partitura com inesperado acorde “dissonante” (sétima da dominante de Fá maior). Esse começo em “tonalidade incorreta” foi considerado muito audacioso e reprovado pela crítica da época. A indecisão tonal dos acordes iniciais persiste por quatro compassos, mascarando a tonalidade principal, até que uma escala descendente das cordas conduz ao primeiro tema do Allegro con brio. Apresentado pelos primeiros violinos no registro grave, esse tema, com seu ritmo enérgico, lembra o começo da Sinfonia Júpiter de Mozart. O segundo tema (Sol maior) tem caráter melódico e é formado por um diálogo do oboé com a flauta, sobre arpejos das cordas. Há um momento mais reflexivo, quando o fagote desce à tonalidade menor, servindo de base para um contraponto triste desenhado pelo oboé. Mas a alegria do primeiro tema reaparece e empresta seus elementos para as passagens imitativas que constroem o desenvolvimento. Uma vigorosa Coda de 38 compassos conclui o movimento com insistente afirmação tonal.

 

O Andante cantabile con moto também tem forma sonata, com dois temas principais. O primeiro recebe um tratamento quase fugato – apresentado pelos segundos violinos, é imitado primeiramente pelas violas e violoncelos, depois pelos fagotes e contrabaixos. O segundo tema caracteriza-se pelas notas repetidas e pontuadas, intercaladas com pausas. Durante todo o movimento é dado um papel de destaque para os tímpanos.

 

O Minueto: Allegro molto e Vivace, certamente o movimento mais original da Sinfonia, é, de fato, o primeiro dos característicos scherzi sinfônicos bethovenianos. O tempo é bem mais rápido que o do tradicional minueto, e seu tema possui um formidável impulso ascendente, cujo dinamismo contamina todo o andamento. O Trio central é igualmente original, com belos blocos de acordes nas madeiras e passagens de notas rápidas nos violinos.

 

O Finale inicia-se de maneira engenhosa: o Adagio de seis compassos apresenta uma série de partidas em falso dos primeiros violinos – trata-se de uma escala de Dó maior, retomada cinco vezes, a cada vez ganhando um grau – até formar a escala completa. Essa dá acesso ao primeiro tema do Allegro molto, de contagiante alegria, com suas notas em staccato. O segundo tema, em Sol maior, tem um caráter mais dançante. O desenvolvimento fundamenta-se, sobretudo, em fragmentos do primeiro tema. A Coda, com um ritmo de marcha, destaca as trompas e os clarinetes e conduz a um final luminoso.

 

Paulo Sérgio Malheiros dos Santos
Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado. Apresenta o programa semanal Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.

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