Musica Celestis

Aaron Jay Kernis

(1990 | Versão para orquestra de cordas, 1991)

Instrumentação: cordas.

 

“O ofício do canto agrada a Deus quando diligentemente realizado. Se a mente e o espírito forem atentos, juntar-nos-emos aos coros dos anjos que, incessantemente, louvam ao Senhor”, assim descreve o monge Aureliano de Réome, autor do livro Musicae disciplinae, o primeiro tratado do canto gregoriano e o mais antigo existente sobre a música. Musica celestis, em sua concepção medieval, define-se como a arte laudatória dos anjos no céu. A imersão em obras medievais, especialmente no misticismo musical da monja beneditina Santa Hildegard de Bingen, reforçada pela imagem celestial do canto dos anjos em louvor a Deus, foram as principais influências para o compositor norte-americano Aaron Jay Kernis produzir, em 1990, seu Quarteto de Cordas nº 1, do qual faz parte o Adagio – Musica Celestis, como segundo movimento. É importante e esclarecedor salientar que o Quarteto de Cordas nº 2, chamado Musica Instrumentalis e, por sua vez, inspirado em danças barrocas e renascentistas, valeu a Kernis o Prêmio Pulitzer para Música em 1998.

 

Vislumbrando a potencialidade sinfônica do Adagio, Kernis, em 1991, arranjou-o para orquestra de cordas, adicionando divisi nos instrumentos existentes e a voz do contrabaixo. Desde a estreia da versão orquestral, realizada em 1992 por Ransom Wilson à frente da Orquestra Sinfônica de San Francisco, Musica Celestis tem sido a obra mais executada de Kernis. É comum associá-la ao Adagietto de Gustav Mahler ou ao famoso Adagio de Samuel Barber, outro compositor norte-americano que transcreveu para orquestra o movimento lento de seu primeiro quarteto para cordas. Porém, a tradição do hino de louvor instrumental remete ao Quarteto opus 132 de Beethoven, cujo Adagio, um coral no modo lídio, intitula-se “canção em ação de graças a Deus por um convalescente”.

 

Segundo a sucinta descrição de Kernis, Musica Celestis baseia-se em uma melodia simples, desenvolvida em amplo padrão harmônico, através de uma série de variações e modulações emolduradas por uma introdução e uma coda. Estruturada como uma passacaglia barroco-minimalista, a obra possui variações que se adensam a cada seção e extinguem-se celestialmente, com sons em surdina, sem vibrato e em harmônicos.

 

Marcelo Corrêa
Pianista, Mestre em Piano pela Universidade Federal de Minas Gerais, professor na Universidade do Estado de Minas Gerais.

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