Concerto para harpa, op. 25

Alberto GINASTERA

Com a morte de Heitor Villa-Lobos em 1959, Alberto Evaristo Ginastera tornou-se o mais comentado compositor sul-americano. Aos sete anos começou seus estudos musicais e antes dos vinte formou-se no Conservatório Williams com Medalha de Ouro em Composição. Antes de concluir os estudos no Conservatório Nacional de Música, viu sua carreira impulsionar-se quando Juan José Castro regeu no Teatro Colón sua suíte orquestral do balé Panambí, em 1937. Essa apresentação o lançou como compositor de importância no cenário musical argentino. Ginastera influenciou o desenvolvimento musical de seu país, desdobrando-se entre o ensino, a composição e projetos de difusão da música contemporânea. Começou como professor no Conservatório Nacional e na Academia Militar Nacional San Martín em 1941, mesmo ano em que viajou aos Estados Unidos para participar do Tanglewood Music Festival. O contato com Aaron Copland, no Festival, lhe rendeu, mais que uma longa amizade, um rico confronto entre ideias nacionalistas e concepções de vanguarda.

 

A intensificação da política peronista provocou a demissão de Ginastera da Academia Militar. Um ambiente insustentável convenceu-o a ir, em dezembro de 1945, para os Estados Unidos, onde permaneceu até março de 1947. Em sua volta, funda a seção argentina da International Society for Contemporary Music e assume a organização e direção do Conservatório de Música e Teatro da Universidade Nacional de La Plata. Ainda dissonante em relação aos peronistas, perde o cargo de diretor em La Plata, em 1952. Com a derrota de Perón, reassume sua carreira na Universidade em 1956, ano da composição do Concerto para harpa.

 

Ginastera compôs dos anos 1930 até sua morte. Ao final dos anos 1960 fez um balanço de seu trabalho, dividindo o conjunto de sua obra em três períodos estilísticos: o do “nacionalismo objetivo” (1934–1947), que faz referências diretas ao folclore argentino por meios tonais tradicionais; o do “nacionalismo subjetivo” (1947–1957), que sintetiza elementos folclóricos em favor de um estilo argentino original; e o do “neo-Expressionismo” (a partir de 1958), em que combina procedimentos experimentais de vanguarda com inspirações surrealistas. Os teóricos identificam um quarto período, o das “sínteses finais” (1976–1983), no qual suas obras articulam tradição e inovação extrema.

 

O Concerto para harpa foi concebido por Ginastera em 1956, revisado em 1958 e lançado em 1965. Sua poética tanto expressa o nacionalismo subjetivo quanto sugere o neo-Expressionismo. O caráter dramático – que dá o tom de suas óperas – foi determinante na construção dos concertos. Compôs um para violino, dois para piano, dois para violoncelo e um para harpa. Todos eles apresentam inovações nas estruturas tradicionais do gênero concerto. Os primeiros movimentos costumam exigir todo o virtuosismo dos intérpretes, abrindo-se com “cadências de bravura” e se encerrando com estudos e variações brilhantes. O imenso desafio e a virtuosidade devem-se ao trabalho de colaboração íntima entre o compositor e grandes intérpretes. O Concerto op. 25 foi estreado pelo importante harpista espanhol Nicanor Zabaleta, com o regente Eugene Ormandy e a Philadelphia Orchestra. As expansões harmônicas e texturais que o compositor consolidou nas obras subsequentes aparecem aqui combinadas com ritmos vibrantes e conduções melódicas sugeridas pela música indígena argentina. Essa alquimia permitiu a expansão da linguagem musical, aliando à habilidade técnica a expressão da beleza sensível.

 

Igor Reyer
Pianista, Mestre em Música pela Universidade Federal de Minas Gerais.

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