Jean SIBELIUS
Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, cordas.
O musicólogo e historiador da música Roland de Candé demarca cartesianamente o início do declínio do espírito romântico a partir de 1840. No entanto, ele salienta que esse declínio não gera movimentos capazes de suscitar uma estética musical nova. Diz Candé que “separado de sua fonte, o romantismo musical prossegue na velocidade adquirida. Berlioz, Liszt, Wagner, Verdi, Gounod prolongaram, até tarde no século, a despeito do racionalismo ambiente, uma estética baseada na intuição, à qual se vinculam Bruckner, Tchaikovsky, Mahler, Sibelius…” (História Universal da Música).
Nesse contexto é que surgem as ditas escolas nacionais, como heranças do Romantismo, em que Sibelius deve ser situado. Note-se, porém, que esse tipo de classificação não deve ser tomado à risca, mas sim como movimentos oriundos de centros culturais distantes do polo original em que nasceu o Romantismo e que, esteticamente, buscam materiais musicais arraigados em tradições regionais. Assim, pode-se dizer de uma escola francesa, de uma escola espanhola, de uma escola russa, de uma escola tcheca e de uma escola escandinava, na qual despontam os nomes de Edvard Grieg, Carl Nielsen e Jean Sibelius.
A Finlândia de 1899 ainda estava sob domínio russo. Solitária e ameaçada, lutando por sua cultura recôndita em seus lagos e florestas, fará de Jean Sibelius o símbolo de seu nacionalismo. Assim, cada obra sua parece inspirar-se nos poetas de sua terra, em suas epopeias nacionais e em seu folclore. Daí seus poemas sinfônicos, dentre os quais se destaca sua obra-prima, O cisne de Tuonela, além de outras obras de relevo inegável: o Concerto para violoncelo, a Quinta Sinfonia, a Valsa triste e outros poemas sinfônicos como Tapiola e principalmente Finlândia.
Embora Tapiola apresente um modelo bem próximo dos poemas sinfônicos de Liszt e Strauss, Finlândia a ele escapa. Composta em 1899, sob o jugo czarista, esta obra relativamente breve parece ter apenas um único propósito: entoar um hino de amor à terra finlandesa. Esse hino aparece explicitamente na seção final da obra. Embora seja invenção original do compositor, não deixa de apresentar traços do folclore nórdico. Talvez daí o fato de ele ter se tornado uma das melodias mais representativas da cultura musical da Finlândia, concorrendo, entre seus patrícios, com seu próprio hino nacional.
Estreada em 1900, em Helsinki, pela Sociedade Filarmônica daquela cidade, sob a regência de Robert Kajanus, em uma Finlândia ainda sob domínio russo, a peça teve que adotar diversos codinomes para que pudesse ser executada sem o veto da censura.
Moacyr Laterza Filho
Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa, professor da Universidade do Estado de Minas Gerais e da Fundação de Educação Artística.