Leonard Bernstein
Instrumentação: Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, piano, cordas.
Nascido no interior de Massachusetts, em uma família de imigrantes judeus oriundos da Ucrânia, e tendo recebido uma invejável educação humanista e musical, Leonard Bernstein tinha tudo para dar certo… E deu! Em Harvard, onde estudou, estabeleceu laços de amizade com Donald Davidson (depois professor de Filosofia em Berkeley, Princeton e na Universidade de Chicago) e Aaron Copland, cujo nome, na esfera da música, dispensa apresentações. Foi aluno de Fritz Reiner e Serge Koussevitzky. Era excelente pianista, tornou-se um dos regentes mais importantes do século XX e um compositor ímpar. Bernstein circula com facilidade entre o jazz e Mozart, seja como compositor ou como regente, e sua música transpira um perfume nova-iorquino, ao mesmo tempo universal e regionalmente característico: pode-se dizer que, do folclore, ele colhe o que há de mais urbano e mais moderno.
A linguagem de Bernstein provoca simultaneamente desassossego e reconhecimento: pertence ao século XX e não se enquadra em nenhuma corrente. Do jazz, ele busca a rítmica, as harmonias, algum sabor de improviso. Da Broadway, ele busca a melodia acessível, mas ao mesmo tempo conectada com as realidades modernas. Do universo sinfônico (que, como regente, ele conheceu a fundo), ele colhe todo o material disponível para seus processos de criação. Seu trabalho sem preconceitos o coloca ao mesmo tempo no cinema, no teatro e na sala de concertos, sem detrimento da qualidade ou da sinceridade de sua música.
O balé Fancy Free foi estreado em 1944, no Metropolitan de Nova York, tendo, mais uma vez, o próprio Bernstein à frente da orquestra. Foi o primeiro trabalho de uma longa parceria entre o compositor e o coreógrafo Jerome Robbins, que culminou no enorme sucesso de West Side Story. Ele se tornou a fonte para On the Town, outro musical da Broadway, estreado em 1944 e transformado em filme em 1949 (lançado no Brasil com o título de Marujos do Amor), dirigido por George Sidney e estrelado por Gene Kelly e Frank Sinatra.
Volta, em Fancy Free, o Bernstein do jazz, no qual se mistura um quê de Stravinsky, de Kurt Weil, da música cubana e onde se ouvem reminiscências do Concerto em Sol de Ravel. Com o perdão do paradoxo, o compositor parece adotar, diante das suas fontes, uma reverente ironia. Por isso, fontes à parte, é inequivocamente a Bernstein que se ouve, sem preconceitos, jocoso, criativo e infinitamente atemporal.
Moacyr Laterza Filho
Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa, professor da Universidade do Estado de Minas Gerais e da Fundação de Educação Artística.