Concerto para trompa nº 1 em Mi bemol maior, op. 11

Richard STRAUSS

(1883)

Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.

 

De seu pai, Franz Joseph, considerado o melhor trompista alemão de sua época, Richard Strauss herdou o amor pelo instrumento e o conhecimento de suas possibilidades técnico-expressivas. No conjunto de sua obra, a trompa sempre participa com intervenções destacadas e para ela o compositor escreveu dois concertos que, apesar de separados por um intervalo de sessenta anos, formam uma curiosa sucessão. O primeiro é uma peça de juventude, importante para a continuidade evolutiva de um músico que procurava definir seu estilo pessoal. O segundo concerto, composto na mesma tonalidade do primeiro, aos setenta e oito anos, realiza uma espécie de regresso às origens, depois da audaciosa criatividade correspondente ao período central da produção do compositor.

 

Strauss passou a infância rodeado de música, pois muitos parentes próximos eram notáveis instrumentistas, enquanto uma tia tornou-se célebre cantora lírica. O pequeno Richard demonstrou muito cedo gosto pela criação musical, compondo peças para piano e canções. Antes de completar dezessete anos, estreou uma sinfonia em ré menor, sob a regência do célebre Hermann Levi, com enorme sucesso. Mas o compositor logo renegou essa obra, considerando-a imatura.

 

O Concerto para trompa foi o primeiro trabalho para orquestra com o qual Strauss se mostrou satisfeito. Quando o compôs, aos dezenove anos, estava ainda sob a tutela musical do pai, obstinado cultor dos clássicos e dos primeiros românticos. O célebre trompista odiava as inovações, sobretudo a música de Wagner, e mantinha o filho cuidadosamente afastado do “modernismo” reinante no ambiente musical da época. No Concerto para trompa o jovem Strauss, embora ainda submisso aos ensinamentos paternos, revela alguns lampejos de originalidade. Quanto à forma, o compositor afasta-se do modelo consagrado por Mozart, caracterizado pelo imaginativo e ágil diálogo do instrumento solista com a orquestra. Strauss adota o chamado “estilo brilhante” dos concertos de Hummel, em que a orquestra limita-se ao papel secundário de acompanhamento. A parte solista, ao contrário, é ressaltada pela riqueza dos ornamentos e pelos exibicionismos virtuosísticos. Dentro dessas características, o Concerto possui impecável construção formal. Strauss apresenta algumas ideias inéditas interessantes, como o artifício de ligar os três movimentos por uma engenhosa associação temática: no primeiro andamento (Allegro), as tercinas iniciais formam um tema cheio de vigor. No segundo (Andante) reaparecem como base do acompanhamento para a melodia do solista. No Rondo/Allegro final transfiguram-se em elemento de virtuosismo, com toques de humor e muita fantasia. A invenção melódica é sempre bela e o estilo de “bravura” exige muito do solista, expondo-o constantemente.

 

Curiosamente, o Concerto não foi estreado pelo pai do compositor, mas pelo trompista Gustav Leinhos, em 4 de março de 1885, em Meiningen, sob a direção de Hans von Bülow.

 

Paulo Sérgio Malheiros dos Santos
Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado.

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