Emmanuel Chabrier
Instrumentação: Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 4 fagotes, 4 trompas, 4 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, 2 harpas, cordas.
Filho de um advogado bem-sucedido, Chabrier começou seus estudos musicais aos seis anos de idade, em sua cidade natal. Mas, apesar de seu talento para a música ter-se manifestado precocemente, ele estava destinado a seguir a tradição familiar. Aos onze anos mudou-se com a família para Clermont-Ferrand, onde pôde se preparar para os estudos de Direito. Em 1856 a família se transferia para Paris, e o jovem Chabrier entrava para a Escola de Direito, onde viria a se formar em 1861. No mesmo ano conseguia um cargo no Ministério do Interior. Esse emprego lhe possibilitaria uma estabilidade material por vinte anos, enquanto se dedicava à sua verdadeira paixão: a música.
Fascinado com a vida cultural de Paris, ele rapidamente se infiltrou nos meios literários e artísticos mais progressistas da capital. Chabrier era apreciado por sua personalidade animada e alegre, sua veia cômica e seu grande poder de observação. Os pintores impressionistas o adoravam, os poetas parnasianos o acolheram como a um companheiro. Com sua maneira bizarra de tocar piano, tornou-se indispensável nos salões parisienses. Foi amigo íntimo de Paul Verlaine, que escreveu dois libretos para suas primeiras operetas, e de Édouard Manet, que o retratou em três quadros. Seus amigos da vanguarda artística parisiense incluíam, ainda, os compositores Saint-Saëns, Massenet, Fauré, Duparc e Vincent d’Indy; os pintores Degas, Monet e Renoir e os escritores Émile Zola e Stéphane Mallarmé.
Em sua primeira viagem à Alemanha, em 1879, na companhia de Duparc, Chabrier descobriu a ópera Tristão e Isolda, de Wagner. A apresentação, em Munique, o comoveu tanto que ele abandonou o Direito, pediu demissão do cargo no Ministério do Interior e dedicou o resto de sua vida à composição musical. Para completar a renda familiar, regia coros e dava aulas particulares.
No verão de 1882 Chabrier viajou à Espanha com sua esposa. Encantado com tudo o que viu e ouviu, escreveu ao amigo Charles Lamoureux dizendo da intenção de transpor suas impressões de viagem para a música de concerto. Nascia, assim, em 1883, a alegre abertura España – Rhapsodie pour orchestre. Embora os temas de España não sejam de todo arrebatadores, é a vitalidade da música, combinada com uma rítmica contagiante e um colorido orquestral único, que faz desta obra – escrita em um único movimento – uma das favoritas do repertório de concerto. Inicia-se com uma introdução viva, que prepara a aparição dos dois primeiros temas. Uma variação temática baseada nos motivos iniciais desemboca no terceiro tema, lírico, contrastante, ouvido nos violinos e violas. Nova variação temática e em seguida um quarto tema é apresentado, desta vez nos trombones. Esse tema nos conduz a uma reapresentação temática da obra com ligeiras modificações e, logo após, somos levados ao final forte e brilhante.
A estreia de España em Paris, nos Concertos Lamoureux, em 4 de novembro de 1883, foi um sucesso tremendo. Se Chabrier era, antes, considerado um compositor de operetas de pouco sucesso, com España ele se transformou em celebridade da noite para o dia. Ao longo de sua curta carreira, Chabrier compôs poucas obras, mas a alta qualidade de sua música foi capaz de influenciar um número considerável de compositores franceses do início do século XX, tais como Debussy, Dukas, Satie, Ravel, Schmitt, Milhaud e Poulenc.
Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor da Escola de Música da UEMG, autor dos livros Música menor e Os sapatos floridos não voam.