Árias e Danças Antigas: Suítes nos. 1 e 2

Ottorino RESPIGHI

Suíte nº 1 (1917)
Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 fagotes, 2 trompas, trompete, harpa, cravo, cordas.

Suíte nº 2 (1923)
Instrumentação: piccolo, 3 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, 2 fagotes, 3 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tímpanos, harpa, celesta, cravo, cordas.

 

 

Respighi pertence à chamada Geração de Oitenta (1880) que, na Itália dominada por longa tradição operística, lutou pelo renascimento de uma música instrumental vigorosa. Violista renomado, Respighi teve formação cosmopolita. Tocou na Orquestra da Ópera de São Petersburgo e estudou com Rimski-Korsakov, de quem herdou a ciência da instrumentação. Em Berlim, foi discípulo do conservador Max Bruch; entretanto, soube enriquecer sua paleta orquestral em contato com os aspectos inovadores das obras de Richard Strauss e Debussy.

 

Por outro lado, o compositor identificou-se com o passado musical de seu país. Usou os modos gregorianos em composições próprias e transcreveu obras antigas. As três suítes de Árias e Danças Antigas refletem seu interesse pelos velhos mestres – cada uma possui quatro movimentos, retirados de peças para alaúde de autores italianos e franceses dos séculos XVI e XVII. Por essa época, as peças de dança, agrupadas ou não em suítes, constituíram uma das fontes fundamentais para a música instrumental. Em festas populares ou em cerimônias cortesãs, a dança desempenhava importante papel na vida social renascentista ou barroca. Entretanto, cada vez mais as peças da suíte foram tratadas como música para ser tocada e não necessariamente dançada. Os compositores reuniam, na Suíte, danças representativas de diferentes países, consideradas como patrimônio comum do Ocidente. A essas agregavam, eventualmente, algum número inabitual, de países distantes, turqueries com claro apelo exótico.

 

Com liberdade e criatividade, Respighi soube interpretar aspectos sugestivos desses originais, utilizando uma orquestração extremamente inventiva e atraente.

 

A Suíte nº 1 inicia-se com um Balletto do compositor Simone Molinaro, mestre de capela de Gênova.

 

A segunda dança, uma Gagliarda de grande vivacidade e com orquestração mais densa, foi composta por Vincenzo Galilei – pai do célebre astrônomo.

 

A Villanella seguinte cria grande contraste, apresentando delicado lirismo. Trata-se de uma canção popular napolitana anônima.

 

Também desconhecido é o autor do Passomezzo e Mascherada, número final da suíte, repleto de humor e energia.

 

A Suíte nº 2 inicia-se com três números do balé Laura soave de Fabricio Caroso – Balletto con gagliarda, Saltarello e Canario – reagrupados por Respighi em um Andantino.

 

As duas peças seguintes homenageiam a música francesa: a Dança Rústica é obra de Jean Baptiste Bésard, importante compositor borgonhês para alaúde. A próxima ária, Campanae parisienses, inspira-se na canção Les cloches de Paris, atribuída a Marin Mersenne, matemático e filósofo jesuíta, amigo de Descartes.

A suíte termina retornando à Itália, com os temas originais do norte do país encontrados na Bergamasca de Bernardo Gianoncelli. A beleza do material temático somada ao fascínio tímbrico da orquestração magistral de Respighi tornam essas suítes páginas inesquecíveis.

 

Paulo Sérgio Malheiros dos Santos

Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado. Apresenta o programa semanal Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.

 

anterior próximo