Caio Facó
Instrumentação: Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, clarone, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, piano, cordas.
Sob a orientação de Alfredo Barros e Germán Gras, Caio Facó graduou-se em Composição pela Universidade Estadual do Ceará em 2015, antes de ingressar no mestrado em Composição na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sob orientação de Antônio Carlos Borges-Cunha. Premiado no Concurso Internacional Novos Compositores, promovido pela Orquestra Metropolitana de Lisboa, e contemplado com o Prêmio Funarte de Composição Clássica de 2016, Facó recebeu também menção honrosa por Aproximações Áureas na edição 2016 do Festival Tinta Fresca, promovido pela Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, e foi, com a obra Pandora, um dos finalistas do mesmo festival na edição deste ano. Interpretadas por importantes grupos instrumentais, tais como o Mivos Quartet, o International Contemporary Ensemble e a Orquestra Sinfônica do Teatro Claudio Santoro, suas obras mesclam seu criativo pensamento matemático com um expansivo interesse em modos de expressão da cultura e da realidade brasileiras para além de estéticas nacionalistas.
Os últimos anos de sua produção, particularmente frutíferos, ilustram toda a força e variedade dessa poética que articula raciocínio matemático e persistente zelo pela representação do cenário contemporâneo. Se Polígonos (2015) e Aproximações Áureas exploram algoritmos matemáticos a fim de dar solidez a um discurso pessoal, Prece (2016), Canções Errantes (2016) e Ritos das Senhoras da Terra (2017), por exemplo, incorporam um conjunto de cantus firmi, extraídos dos cânticos de beatas do interior do Ceará, a uma narrativa mais ampla, nas palavras de Facó: “narrativa do povo brasileiro, de sua cultura, de sua luta e de nossa época”. Compositor residente junto ao grupo português Ensemble MPMP, Facó entende o contraste de materiais musicais como uma das principais características de sua obra e como um caminho para a “criação de uma identidade nacional contemporânea à nossa época, que mostre as riquezas de nossa pátria e as insira no contexto em que vivemos”.
Aproximações Áureas é dedicada a seu pai, por lhe ter revelado “o fantástico universo da matemática”, e alia à manipulação calculada de elementos musicais um trabalho de experimentação sonora. Às abstrações matemáticas juntam-se influências de natureza diversa, como a cena do Club Silencio do filme Mulholland Dr., de David Lynch, que lhe serve de inspiração para um trompete que se ouve, mas não se vê. O título da obra evoca a noção de proporção áurea, constante matemática relativa à natureza do crescimento que, pelo menos desde Fídias, é utilizada em obras de arte e arquitetura. Na obra de Facó, essa constante organiza a duração das seções formais e estabelece o percurso harmônico por aglutinação de quintas sucessivas: a obra se inicia com a classe de alturas mi, seguida de mi e si, depois mi, si e fa#, progressivamente, até que se ajuntem todas as doze classes de notas. Se o princípio que governa a obra é matemático, sua força expressiva reside, porém, em seu conteúdo sonoro, na natureza dos materiais musicais e no caráter dramático, produzido principalmente pelo colorido orquestral livremente inspirado em Paul Dukas e Gustav Holst.
Igor Reyner
Pianista, Mestre em Música pela UFMG, Doutor em Literatura no King’s College London e colaborador do ARIAS/Sorbonne Nouvelle Paris 3.