Uma das principais compositoras brasileiras da atualidade, Marisa Rezende ganhou notoriedade por seu estilo intimista e altamente pessoal, que emprega uma linguagem contemporânea, em diálogo com o pensamento de vanguarda, mas sem optar por radicalismos muito abrasivos. Suas obras geralmente privilegiam andamentos lentos e convidam o ouvinte a humores contemplativos, ou mesmo introspectivos, envolvendo-o em uma ambientação quase sempre permeada por algo de mistério. Esse estilo, segundo a própria compositora, reflete o seu jeito de ser e a sua relação com o tempo. Em diversas entrevistas, Marisa comenta que aborda a composição como uma prática intuitiva, “como se estivesse sempre tateando no escuro” até encontrar algo, uma ideia a ser seguida, e dar-lhe forma. Seu opus 1, o Trio para oboé, trompa e piano, foi escrito em 1976, quando tinha 32 anos e já estava cursando o mestrado em Piano na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos. A partir de então, deu início a uma produção espaçada, tecida em ritmo sereno, que tem se provado cada vez mais influente no cenário nacional. Fragmentos, composta em 2015, é uma obra que traz consigo todas essas características, mas que valoriza mais outros dois aspectos também muito presentes na biografia de Marisa: o interesse plural e a atenção ao particular. Além de compositora, Marisa construiu, em paralelo, carreiras bem-sucedidas como professora, pesquisadora e pianista, algo que se reflete no modo como Fragmentos se desenha. Ao longo da peça, cada naipe e seus músicos recebem um pequeno fragmento de tempo e espaço, como o princípio de um solo, que pela brevidade do fragmento não chega a se consumar como tal, mas que oferece a todos um momento para demonstrar sua voz. E esses momentos se somam no decorrer da obra até a nota final, executada em uníssono, como um lembrete de que cada estrela possui seu brilho, e é no encontro que pode se formar uma constelação.