Universo Transcendental

Fabio Mechetti, regente
Concentus Musicum de Belo Horizonte
Iara Fricke Matte, regente do coro

|    Presto

|    Veloce

M. REZENDE
SCHOENBERG
HOLST
Fragmentos
Noite Transfigurada, op. 4
Os Planetas, op. 32

Fabio Mechetti, regente

Fabio Mechetti é Diretor Artístico e Regente Titular da Filarmônica de Minas Gerais desde a sua fundação, em 2008, sendo responsável pela implementação de um dos projetos mais bem-sucedidos no cenário musical brasileiro. Construiu uma sólida carreira nos Estados Unidos, onde esteve quatorze anos à frente da Sinfônica de Jacksonville, foi regente titular das sinfônicas de Syracuse e de Spokane e conduz regularmente inúmeras orquestras. Foi regente associado de Mstislav Rostropovich na Orquestra Sinfônica Nacional de Washington e com ela realizou concertos no Kennedy Center e no Capitólio norte-americano. Conduziu as principais orquestras brasileiras e também em países da Europa, Ásia, Oceania e das Américas. Em 2014, tornou-se o primeiro brasileiro a ser Diretor Musical de uma orquestra asiática, com a Filarmônica da Malásia. Mechetti venceu o Concurso de Regência Nicolai Malko e é Mestre em Composição e em Regência pela Juilliard School. Na Temporada 2024, apresentou-se com a Orquestra Petrobrás Sinfônica e retornou ao Teatro Colón, onde conduziu a Filarmônica de Buenos Aires.

O Concentus Musicum de Belo Horizonte é um grupo vocal e instrumental que se dedica à interpretação e difusão de obras coloniais, barrocas, clássicas e renascentistas, bem como as de um seleto repertório contemporâneo. Idealizado pela regente Iara Fricke Matte, o grupo engloba três formações musicais distintas: o Coro Sinfônico, o Madrigal e a Orquestra Barroca, todas nascidas da parceria entre a regente, os músicos e o pianista e organista Hélcio Vaz. A estreia do Concentus aconteceu em dezembro de 2016 na Sala Minas Gerais, em uma apresentação do Réquiem de Mozart com a Filarmônica de Minas Gerais, o que deu início a uma frutífera parceria, com colaborações em todas as temporadas da Orquestra desde então. O Coro Sinfônico, formação que geralmente se apresenta com a Filarmônica, é composto por quarenta cantores e conta com preparação vocal de Eliseth Gomes.

Regente coral e orquestral, Iara Fricke Matte dedica-se ao estudo e apresentação de peças dos períodos barroco, renascentista e contemporâneo, com destaque para obras corais a capella, sinfônico-corais e o repertório de Bach. Concluiu o mestrado em Regência Coral pela Universidade de Minnesota e o doutorado na mesma área pela Universidade de Indiana, ambas nos Estados Unidos. Desde 1997, é professora de regência na Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Dentro da universidade, atuou como regente titular do coral Ars Nova entre 2013 e 2017, tendo realizado mais de noventa concertos no Brasil e no exterior. Atualmente ocupa os cargos de regente e coordenadora da Orquestra Sinfônica da UFMG. Em 2016, idealizou o Concentus Musicum de Belo Horizonte, que se tornou um importante parceiro da Filarmônica, com participação em todas as temporadas da orquestra desde então.

Programa de Concerto

Fragmentos | M. REZENDE

Uma das principais compositoras brasileiras da atualidade, Marisa Rezende ganhou notoriedade por seu estilo intimista e altamente pessoal, que emprega uma linguagem contemporânea, em diálogo com o pensamento de vanguarda, mas sem optar por radicalismos muito abrasivos. Suas obras geralmente privilegiam andamentos lentos e convidam o ouvinte a humores contemplativos, ou mesmo introspectivos, envolvendo-o em uma ambientação quase sempre permeada por algo de mistério. Esse estilo, segundo a própria compositora, reflete o seu jeito de ser e a sua relação com o tempo. Em diversas entrevistas, Marisa comenta que aborda a composição como uma prática intuitiva, “como se estivesse sempre tateando no escuro” até encontrar algo, uma ideia a ser seguida, e dar-lhe forma. Seu opus 1, o Trio para oboé, trompa e piano, foi escrito em 1976, quando tinha 32 anos e já estava cursando o mestrado em Piano na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos. A partir de então, deu início a uma produção espaçada, tecida em ritmo sereno, que tem se provado cada vez mais influente no cenário nacional. Fragmentos, composta em 2015, é uma obra que traz consigo todas essas características, mas que valoriza mais outros dois aspectos também muito presentes na biografia de Marisa: o interesse plural e a atenção ao particular. Além de compositora, Marisa construiu, em paralelo, carreiras bem-sucedidas como professora, pesquisadora e pianista, algo que se reflete no modo como Fragmentos se desenha. Ao longo da peça, cada naipe e seus músicos recebem um pequeno fragmento de tempo e espaço, como o princípio de um solo, que pela brevidade do fragmento não chega a se consumar como tal, mas que oferece a todos um momento para demonstrar sua voz. E esses momentos se somam no decorrer da obra até a nota final, executada em uníssono, como um lembrete de que cada estrela possui seu brilho, e é no encontro que pode se formar uma constelação.

“Minha obra não ilustra nem ação nem drama, mas se limita a exprimir sentimentos humanos”. Ainda que Arnold Schoenberg tenha se referido dessa forma à Noite Transfigurada, é possível pensar na obra como uma espécie de drama sem palavras, perfeitamente articulado às cinco estrofes do poema homônimo de Richard Dehmel que lhe serve de inspiração. O poema apresenta o diálogo de dois amantes durante uma caminhada à luz da lua. A mulher, com passos incertos, sob o peso da culpa, confessa uma gravidez, fruto de relacionamento anterior. Diante de seu “olhar sombrio”, que interroga “mergulhado na claridade”, o homem oferece mais que um consentimento. Assume a criança como filha, como fruto – agora nas palavras e interpretação de Schoenberg – “dos milagres da natureza, que transformaram essa noite trágica em noite transfigurada”. Dois compositores estão muito presentes na Verklärte Nacht de Schoenberg: Wagner e Brahms. Do primeiro, o autor faz referência às possibilidades de “conceber temas e motivos enquanto entidades autônomas, o que permite sua superposição dissonante a certas harmonias”. Por isso, mesmo com a ambiência dissonante e a intrincada trama polifônica, a expressão exacerbada de sentimentos na peça arrebata o ouvinte. Além de Wagner, a presença brahmsiana é forte em aspectos como a estruturação melódica e harmônica, e se faz notar também pela observação schoenberguiana de “não economizar, não regatear quando a clareza exige mais espaço; levar cada figura às suas últimas consequências”. Noite Transfigurada é uma das partituras emblemáticas do expressionismo em Música. Obra-prima inesgotável, que ainda tem muito a dizer. Escrita por Schoenberg aos 25 anos, com uma segurança de ofício admirável para um autodidata, é um dos grandes legados de um espírito inquieto e combativo que, a exemplo do argumento dessa Noite Transfigurada, era dotado de uma capacidade singular de superação.

A obra Os Planetas foi concebida por Gustav Holst como uma sequência de movimentos contrastantes, inspirados nas características atribuídas pela Astrologia aos planetas do Sistema Solar e nos afetos das divindades greco-romanas associadas aos mesmos. Isso explica a ausência do planeta Terra, que é o ponto de referência da cosmologia antiga, geocêntrica. Alguns movimentos apresentam ostinatos pulsantes e marciais; outros são lentos e delicados; outros, ainda, são scherzos velozes e fluentes. Há diferentes interpretações sobre a sequência escolhida pelo compositor para os movimentos. Uma delas sugere que a escolha partiu da distância dos planetas em relação à Terra. Nesse sentido, o ciclo refletiria as influências astrológicas dos planetas cada vez mais afastados. Haveria, entretanto, uma exceção, que é a ordem invertida entre Marte e Vênus, o que talvez se justifique por razões propriamente musicais: o caráter vigoroso de Marte é mais adequado para um início do que a calma e delicadeza de Vênus. A primeira versão da peça foi instrumentada para dois pianos. A versão posterior, para grande orquestra, tornou-se mais conhecida. Holst, inclusive, se queixou, em diversas oportunidades, que a popularidade de Os Planetas eclipsava suas demais obras. A versão orquestral revela influências de compositores contemporâneos como Ravel, Stravinsky e Schoenberg no brilho dos timbres, nas dissonâncias e na rítmica pulsada e vigorosa. De Debussy, observa-se a influência do terceiro de seus Noturnos, “Sereias”, no último movimento, “Netuno, o místico”, com a presença do coro feminino. A estreia de Os Planetas, em uma versão incompleta, se deu em um concerto privado em 1918, com regência de Adrian Boult. A primeira performance completa ocorreu em 1920, com direção de Albert Coates.

5 dez 2024
quinta-feira, 20h30

Sala Minas Gerais

6 dez 2024
sexta-feira, 20h30

Sala Minas Gerais
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