Sinfonia nº 3 em Ré maior, op. 29, “Polonesa”

Piotr Ilitch TCHAIKOVSKY

(1875)

Instrumentação: Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, cordas.

 

O ano de 1875 havia começado mal para Tchaikovsky. Ele mostrara seu recém-composto Concerto para piano no 1 a Nikolai Rubinstein, que o classificou como “vulgar”, “imprestável” e “impossível de tocar”. Tchaikovsky caiu em profunda depressão e pensou em suicidar-se. A falta de amigos próximos e a monótona rotina de professor do Conservatório tornavam a sua vida em Moscou insuportável. O ano apenas começara e ele ainda teria de aguentar até as férias para poder sair da cidade.

 

Então chegou o verão, e Tchaikovsky pôde fugir para o campo. E aquelas férias, curiosamente, foram as mais tranquilas de sua vida. Nada de depressão ou sonhos de morte. Nada daquele estado depressivo de que ele tanto reclamava no início do ano.

 

“Eu estou em Usovo há mais de três semanas e passo o tempo calma e agradavelmente. O Príncipe Vasily Galitzine está aqui também, e não estamos entediados. Construíram uma esplêndida casa de banhos ao lado dos estábulos e ontem nós cozinhamos dentro dela. (…) Eu estou agora com uma nova sinfonia, e a componho um pouco de cada vez. Não me debruço sobre ela por horas e horas. Estou fazendo mais caminhadas. Até os cães são os mesmos, sempre me perseguem para que eu os leve para passear.”

 

A nova sinfonia seria a Terceira, uma de suas obras mais felizes. Tchaikovsky a compôs entre os meses de junho e agosto, e a estreia se deu em 19 de novembro, na Sociedade de Música Russa, em Moscou, sob a regência de Nikolai Rubinstein. Ao final, o ano de 1875 provou ter sido um bom ano. Ele compôs não apenas o célebre Concerto para piano no 1 e a Sinfonia no 3, como também iniciou a composição do que viria a ser o seu primeiro balé de sucesso, O lago dos cisnes.

 

A Sinfonia no 3 representa uma transição entre as composições de juventude do compositor e suas grandes obras-primas de maturidade: os balés O lago dos cisnes (1875/1876), A bela adormecida (1889) e O quebra-nozes (1892); as óperas Eugene Oneguin (1877/1878), A Rainha de Espadas (1890) e Iolanta (1891); o poema sinfônico Francesca da Rimini (1876); e as sinfonias números 4 (1877/1878), 5 (1888) e 6 (1893).

 

Escrita em cinco movimentos, a Sinfonia no 3 possui um fino equilíbrio: um Andante no centro (terceiro movimento), ladeado por dois scherzi (segundo e quarto movimentos), emoldurados, por sua vez, por dois movimentos de rara vivacidade (primeiro e quinto). Atravessando essa estrutura do início ao fim, um incrível acúmulo de energia se inicia nos primeiros acordes da música e atinge seu ápice nos últimos compassos da obra. O primeiro movimento (Moderato assai, Tempo di marcia funebre), assim como o último (Allegro con fuoco, Tempo di polacca), são extremamente vigorosos, plenos de vitalidade e alegria. No segundo (Allegro moderato e semplice, alla tedesca) e no quarto (Allegro vivo) movimentos, Tchaikovsky equilibra a leveza dos temas com um trabalho refinado de alternância entre as cordas e as madeiras. O terceiro movimento (Andante elegiaco), central, com suas belas melodias tão típicas de Tchaikovsky, é o mais intenso e profundo dos cinco.

 

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

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