Suíte Lírica, op. 54

Edvard GRIEG

(1891 | Orquestração pelo compositor, 1905)

Instrumentação: piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, cordas.

 

A produção musical de Edvard Grieg é predominante e caracteristicamente alemã e dinamarquesa até os anos de 1864 e 1865, muito em função de seus estudos musicais em Leipzig e de sua criação numa classe média norueguesa culturalmente à sombra de Copenhague. Seria o contato com os músicos Rikard Nordraak e Ole Bull o fator determinante em seu redirecionamento estético para a música nacional a partir daqueles anos. Enquanto Bull apresentou-lhe a música camponesa da Noruega, Nordraak, à frente do movimento nacionalista norueguês, convenceu-o a associar-se ao movimento.

 

O nacionalismo de Edvard Grieg vai além da promoção da cultura norueguesa, ao desafiar setores mais conservadores da crítica musical europeia da época. Estes consideravam que a grandeza musical só poderia ser encontrada através da composição de sinfonias que abordassem temas universais. Em contraste, a força de seu nacionalismo deve-se precisamente à expansão da linguagem harmônica pela livre exploração de tradição e temática regionais, em gêneros de menores proporções como a canção, as miniaturas e as suítes. A música de Grieg vai além das fronteiras locais e é recebida por outros compositores como um modelo para a elaboração musical de suas próprias identidades nacionais, como no caso de seu amigo Alberto Nepomuceno, um dos precursores do nacionalismo musical brasileiro.

 

Entre 1867 e 1901 Edvard Grieg compôs 66 pequenas peças para piano nomeadas em seu conjunto Peças Líricas. Essas miniaturas contribuíram para a popularização da obra do compositor, uma vez que eram facilmente consumidas por músicos amadores e não menos admiradas pelos profissionais. O opus 54, quinto livro da coleção, foi composto em 1891 e marca o que se considera o início de seu segundo nacionalismo – mais radical na exploração de temas noruegueses, embora mais inventivo e resiliente. O ciclo reúne seis peças – O jovem pastor, Gangar (dança camponesa norueguesa), Marcha dos trols, Noturno, Scherzo e Soar dos sinos – das quais apenas o Scherzo não explora uma temática nacional. Em 1894 Anton Seidl orquestra quatro peças do ciclo para um concerto com a New York Philharmonic. Uma cópia da partitura da Suíte Norueguesa, como foi batizada por Seidl, viria parar, em 1903, nas mãos de Grieg. Este, dois anos mais tarde, decide fazer, segundo seu próprio gosto, algumas alterações na orquestração do regente húngaro e mesmo, no caso de algumas das peças, orquestrá-las novamente. Assim surge a Suíte Lírica, uma orquestração e reordenação de seu opus 54. Enquanto O jovem pastor traz nas cordas e na harpa um tema folclórico, Gangar retrabalha a tradicional dança camponesa norueguesa de dois tempos, na qual os dançarinos marcham pelo salão. O Noturno evoca as noites de verão norueguesas, combinando erotismo e misticismo numa referência ao escritor Sigbjørn Obstfelder. E a Marcha dos trols retrata as grotescas criaturas do folclore nórdico que vivem isoladas em rochas e montanhas, além de sugerir, em sua lírica seção central, o lamento da princesa aprisionada, figura comum das lendas nórdicas.

 

Igor Reyner
Pianista, Mestre em Música pela UFMG, doutorando de Francês no King’s College London e colaborador do ARIAS/Sorbonne Nouvelle Paris 3.

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