Danças Sinfônicas, op. 45

Sergei RACHMANINOV

(1940)

Instrumentação: Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, clarone, saxofone alto, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, piano, cordas.

 

A composição das Danças Sinfônicas permitiu a Sergei Rachmaninov um mergulho nas lembranças de sua antiga Rússia. Última de suas obras, as Danças Sinfônicas são como um resumo de sua vida de compositor. De colorido orquestral ímpar, grande vitalidade rítmica e lirismo intenso, a obra é plena de reminiscências dos cantos da Igreja Ortodoxa Russa e de citações de obras do próprio Rachmaninov, além de Rimsky-Korsakov, Stravinsky e vários outros. Sua criação se deu em momento de extrema tensão na vida pessoal do compositor que, embora vivesse nos Estados Unidos, afligia-se por sua filha mais nova, Tatiana, que permanecera na França. Com a invasão de 1940, sem notícias frequentes da filha, impossibilitado de voltar à Europa e prevendo que em breve a Rússia também seria invadida, Rachmaninov mergulhou em uma angústia profunda que seria canalizada para a composição das suas Danças Sinfônicas.

 

Em agosto de 1940 escreveu ao célebre regente da Orquestra da Filadélfia, Eugene Ormandy, comunicando a finalização de sua nova obra: “Meu caro Ormandy, na semana passada terminei minha nova obra sinfônica, a qual naturalmente eu gostaria de presentear, em primeiro lugar, a você e a sua orquestra. Chama-se Danças Fantásticas. Devo logo começar a orquestrá-la. Infelizmente minha turnê de concertos inicia-se em 14 de outubro e tenho que praticar ao piano um monte de obras. Não sei se serei capaz de terminar a orquestração antes de novembro”. Como um dos maiores pianistas de sua época, Rachmaninov precisava dividir-se entre suas duas carreiras.

 

Considerando que Danças Fantásticas era um título já muito utilizado por importantes autores, Rachmaninov mudou o nome para Danças Sinfônicas. Também esse não era um título original, pois Grieg intitulara Quatro Danças Sinfônicas a uma obra sinfônica sobre temas populares noruegueses. O fato é que Rachmaninov jamais se sentiu à vontade com o título dessa composição. Em entrevista ao New York World-Telegram, declarou: “Eu deveria ter escolhido como título apenas Danças, mas temia que as pessoas pudessem pensar que eu escrevera música de dança para as orquestras de jazz”.

 

Ormandy logo anunciou que a estreia da nova obra sinfônica de Rachmaninov se daria em janeiro de 1941. A orquestração foi completada durante a turnê, em quartos de hotéis, entre uma viagem e outra. Em novembro de 1940 o editor preparou a partitura do regente e as partes individuais dos instrumentistas; em dezembro iniciaram-se os ensaios. Em 3 de janeiro de 1941 era estreada a obra, Danças Sinfônicas, pela Orquestra da Filadélfia, sob a regência de Eugene Ormandy.

 

Rachmaninov desejava ainda ter essa obra transformada em balé, sonho que ele não viveria para ver realizado. No verão de 1941 mostrou a partitura ao coreógrafo russo Mikhael Fokine, que se mostrou maravilhado com suas possibilidades coreográficas. Mas, antes que começasse a trabalhar na obra, em agosto de 1942, Fokine falecia em Nova York, na mesma época em que Rachmaninov era diagnosticado com um melanoma maligno. O compositor veio a falecer na casa que alugara em Beverly Hills, em 28 de janeiro de 1943, quatro dias antes de seu septuagésimo aniversário.

 

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

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