Congelado no Tempo

Avner Dorman

(2007)

Instrumentação: piccolo, 3 flautas, 2 oboés, requinta, 3 clarinetes, clarone, saxofone alto, saxofone tenor, 2 fagotes, 4 trompas, 4 trompetes, 3 trombones, tuba, 2 tímpanos, percussão, celesta, piano, harpa, cordas.

 

Após estudos com Josef Bardanashvili em Tel-Aviv, Avner Dorman doutorou-se pela Juilliard School of Music sob a orientação de John Corigliano. Estabeleceu-se nos Estados Unidos, onde atua como diretor musical da CityMusic Chamber Orchestra, em Cleveland, e como professor assistente de teoria musical e composição do Sunderman Conservatory of Music do Gettysburg College. Um dos mais respeitados e executados compositores israelenses, recebeu, aos 25 anos, o prestigioso Prêmio do Primeiro Ministro e a Pena de Ouro da Sociedade Israelense de Compositores e Editores, por sua Sinfonia Ellef. Suas obras já foram interpretadas pelos mais importantes grupos musicais de Israel, tais como a Orquestra Filarmônica de Israel, Orquestra Sinfônica de Jerusalém, a Camerata Israel ou o Quarteto de Jerusalém; entre 2001 e 2003 Dorman foi o compositor residente da Israel Camerata.

 

Suas obras aliam à mais rigorosa tradição clássica certa espontaneidade, associada ao jazz e ao rock, e exploram criativamente músicas de tradições asiáticas, africanas e ameríndias. Seu mais evidente traço pessoal é o complexo vocabulário rítmico, que Dorman concilia inusitadamente com timbres e cores orquestrais. Ritmo e timbre, enquanto força motora de sua poética, materializam-se em seus três concertos para percussão: Udacrep Akubrad (2003); Especiarias, perfumes, toxinas! (2006); e Congelado no Tempo (2007).

 

Encomendada pelo percussionista austríaco Martin Grubinger, a obra Congelado no Tempo combina tradições musicais de diferentes regiões a fim de retratar a paisagem sonora de diferentes momentos do desenvolvimento geológico da Terra. Desse modo, três grandes continentes pré-históricos são sonoramente reconstruídos. IndoAfrica explora as músicas africanas e asiáticas, jogando com a coincidência entre os ciclos rítmicos da música indiana (os talas) e os ritmos da tradição musical do oeste africano. O primeiro tema, estritamente indiano, conduz ao segundo, de tonalidade mais africana, por meio de uma improvisação aos moldes da tradição do sul da Índia. O terceiro tema evoca os gamelões com o uso de cincerros, sinos de vaca dispostos como um teclado, e traz a obra para o sudeste asiático. Finalmente, os temas entrecruzam-se em uma fuga. Eurásia mescla a sonoridade da Europa central com a do leste e centro asiáticos, suscitando os lados obscuros desse megacontinente. O frio característico das regiões mais ao norte é sugerido pelo uso exclusivo de instrumentos de metal pelo solista. A linha melódica, no entanto, elabora temas de sicilianas de Mozart, agregando afetividade e intimismo. Américas propõe uma visão do presente. Trata-se de um rondó no qual o refrão remete, a cada repetição, a um gênero da música norte-americana (Broadway, música sinfônica americana, mellow jazz e grunge, gênero de rock de Seattle) que é intercalado a demais gêneros musicais americanos (tango, jazz afro-cubano, swing e minimalismo). A recapitulação final de motivos dos três movimentos retrata o continente americano enquanto síntese e inclusão.

 

Igor Reyner
Pianista, Mestre em música pela UFMG, doutorando de Francês no King’s College London e colaborador do ARIAS/Sorbonne Nouvelle Paris 3.

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