John CORIGLIANO
Instrumentação: piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 4 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, cordas.
Durante os vinte anos que sucederam a Segunda Guerra Mundial, imbuídos da sensação de um esgotamento da velha cultura europeia, compositores como Karlheinz Stockhausen, Pierre Boulez e outros empreenderam um radical rompimento com tudo o que se ligava à música tradicional. Posteriormente, em meados da década de 1970, superados alguns dos traumas da guerra, entrariam em cena compositores que buscavam reatar laços com a tradição, restabelecendo um diálogo entre o presente e o passado musicais.
É nesse contexto que se insere John Corigliano. Referências à tradição musical estão presentes no todo e em cada compasso de suas obras. Tomando de empréstimo gêneros clássicos, como a sinfonia ou o concerto, inclui alusões tanto a obras consagradas do repertório quanto a pequenas estruturas da linguagem mais tradicional, como motivos melódicos ou mesmo o acorde perfeito.
Segundo Corigliano, não haveria mais barreiras estéticas neste mundo globalizado e “internetizado”. Todas as técnicas e estéticas surgidas ao longo do século XX, por antagônicas que fossem, poderiam agora se unir a 700 anos de tradição musical ocidental, aglomerando-se em uma só obra. “As técnicas estão todas em minha mente. Uso-as conforme as necessito”, disse o compositor no Brasil, em 2007, quando exaltou a liberdade estética e técnica dos tempos atuais, em detrimento do que classificou como uma postura “fundamentalista” dos compositores ligados ao serialismo integral, poética predominante nas décadas de 1950 e 1960.
John Corigliano é um dos mais reconhecidos e premiados compositores norte-americanos da atualidade. Embora originário de uma família de músicos, desenvolveu seus estudos musicais informalmente; porém, já aos 26 anos vencia o concurso de composição do Festival de Spoleto, Itália, com sua Sonata para Violino e Piano.
Sua carreira de compositor é marcada pelo ecletismo representativo de sua época. Este insere o compositor em um contexto que a historiografia musical recente – não sem a desconfiança de muitos – tende a denominar como pós-modernismo, aproximando as obras de Corigliano às de compositores como o russo Alfred Schnittke, o estoniano Arvo Pärt, os poloneses Henryk Górecki e Krzysztof Penderecki (em sua fase mais recente) e, no panorama brasileiro, de compositores como Gilberto Mendes.
A ideia da Abertura Promenade surgiu quando o compositor foi pego de surpresa ao ouvir pela primeira vez a Sinfonia do Adeus de Haydn. Essa sinfonia é frequentemente escolhida para encerrar um concerto, uma vez que, durante o último movimento, os músicos vão deixando o palco gradualmente, restando apenas dois violinos para terminar a música em um palco vazio. Já que as Aberturas geralmente iniciam os concertos, o processo contrário ao criado por Haydn – uma orquestra que entra no palco tocando – tornou-se tanto uma ideia interessante quanto um desafio de composição para Corigliano. Ainda nas coxias, os metais anunciam o início dos trabalhos, com os trompetes executando os últimos cinco compassos da Sinfonia do Adeus de trás para a frente. A partir daí, está formada uma fanfarra, que anuncia o desfile dos artistas, começando com o piccolo e concluindo com a tuba, com uma variedade de motivos não isentos de lirismo que conduzem ao clímax com toda a orquestra.
A obra foi estreada em julho de 1981, com a Boston Pops Orchestra, e contou com a regência de John Williams.
Francisco Cesar Leandro Araújo
Músico, Bacharel em Letras