Richard WAGNER
Instrumentação: Piccolo, 3 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 4 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, cordas.
Rienzi, o último dos tribunos, em cinco atos, foi a terceira ópera completa de Wagner. Sua versão original, hoje desaparecida, foi estreada no Teatro Real de Dresden em outubro de 1842, sob a regência de K. G. Reiβiger.
O jovem Wagner vivia com a esposa, Wilhelmine Planer, na cidade de Riga, quando iniciou a composição de Rienzi. Os dois primeiros atos estavam prontos quando, no outono de 1839, o casal precisou fugir da cidade, no meio da noite, para escapar dos credores. O destino foi Paris, considerada na época o centro musical do mundo. Nessa cidade, onde viveram até abril de 1842, Wagner acreditava que alcançaria o sucesso e a fortuna com suas óperas. Mas Paris lhe reservava os maiores desapontamentos de sua carreira. O casal viveu seus anos de maior pobreza material na capital francesa. Ali, onde metade da Europa competia por reconhecimento, Wagner logo compreenderia que, embora recomendado pelo célebre Giacomo Meyerbeer, suas chances de apresentar uma ópera eram remotas. Terminou a composição de Rienzi pensando em montá-la não mais em Paris, mas em qualquer teatro alemão que lhe desse a oportunidade.
O recém-inaugurado Teatro de Dresden aceitou encenar Rienzi. A estreia foi um sucesso e transformou Wagner, de uma hora para outra, no herói do momento. O público não apenas amou a ópera como, de acordo com um crítico da época, ficou no teatro até o fim do espetáculo. E isso não é pouco: a versão original de Rienzi durava seis horas! Para um jovem e desconhecido compositor, manter os alemães acordados até tarde para assistir entusiasticamente à sua nova ópera era algo considerável.
O argumento baseia-se na história de Cola di Rienzi, político romano do século XIV que, líder de Roma, investe contra a tirania dos nobres. Pressionado, no entanto, pela aliança entre os nobres e a Igreja, Rienzi perde gradativamente o apoio da massa e morre no Capitólio, incendiado pela fúria do povo.
A mais longa das óperas de Wagner é, também, uma de suas mais tradicionais. Sua Abertura, ainda hoje tão tocada nas salas de concerto, consiste inteiramente de temas retirados da ópera. No início ouvimos um toque de trompete, o mesmo que, ao fim do Primeiro Ato, é identificado como um toque de guerra estranho ao da família Colonna e que, no Finale do Terceiro Ato, antecipa a guerra dos nobres contra Rienzi e o povo. Em seguida, os violinos apresentam o tema da prece que Rienzi faz dentro do Capitólio, no início do Quinto Ato, pedindo força para suportar os acontecimentos. Esse tema belíssimo, um dos mais conhecidos da ópera, é reapresentado nas madeiras e metais. O toque do trompete anuncia o fechamento da seção e o início da próxima.
Em momento vigoroso, os metais apresentam o tema cantado pelo povo no Finale do Primeiro Ato, louvando Rienzi como seu protetor e proclamando-o rei. Novamente é ouvido o tema da prece de Rienzi, seguindo-se, nos violinos e madeiras, o tema final do Segundo Ato, quando Irene, Adriano e o povo elogiam a atitude de clemência de Rienzi, que perdoa os nobres. O toque do trompete e a repetição desse último tema preparam um final grandioso.
Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Universidade do Estado de Minas Gerais, autor dos livros Música menor e Os sapatos floridos não voam.