Embora frequentemente se associe a obra, a pessoa e a linguagem de Ravel a Claude Debussy, numa amálgama “impressionista”, deve-se observar que a orientação estética de Ravel tem tamanha originalidade e aponta para caminhos da música do século XX, que sua importância talvez se iguale à do próprio Debussy. Para as Valsas nobres e sentimentais, Ravel teve em Schubert seu primeiro modelo. No entanto, não toma as valsas de Schubert como paradigmas, mas como exemplos de um gênero que ele ironiza e desconstrói. O modelo principal desse processo, porém, são as valsas de Strauss e a valsa francesa dos salões elegantes de Paris. Embora o esquema rítmico da dança permaneça sempre vívido nas oito pequenas seções de que se constitui a obra de Ravel, o que se percebe não é a onipresença da valsa, mas sua evocação. A harmonia é a de um Ravel já totalmente vinculado ao século XX, que não tem medo de libertar a dissonância e que dela não faz apenas colorido, mas sonoridade dotada de significado, o que levou o próprio Debussy a declarar, antes de conhecer-lhe a autoria, que se tratava de obra composta “pelo ouvido mais refinado que jamais poderia ter existido”. A versão orquestral, publicada em 1913, foi feita com vistas a um balé intitulado Adelaide, ou a linguagem das flores.