O Cavaleiro da Rosa, op. 59: Suíte

Richard STRAUSS

(1945)

Instrumentação: Piccolo, 3 flautas, 3 oboés, corne inglês, 3 clarinetes, requinta, clarone, 3 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, celesta, cordas.

Richard Strauss foi um dos principais compositores alemães do final do século XIX e primeira metade do século XX, além de regente de destaque. Embora sua larga trajetória composicional abarque desde o Romantismo tardio até a música moderna, alternando períodos de grande inovação com momentos de retorno à música tradicional, Strauss sempre manteve intacta sua personalidade.

Suas obras influenciaram profundamente os compositores do início do século XX. Dono de um catálogo vastíssimo, Strauss soube, como ninguém, ser bem-sucedido em quase todos os gêneros musicais. Na juventude ele abordou, principalmente, a canção e obras para piano solo. Aos poucos surgiram as composições para pequenos grupos instrumentais e os primeiros concertos. No final dos anos 1880 vieram os poemas sinfônicos: Strauss nos legou algumas das mais belas obras do gênero. No início do século XX dedicou-se principalmente à composição de óperas, sem deixar de abordar a sinfonia e o balé, nos momentos de pausa entre um sucesso e outro. Ao fim da vida, voltou-se aos gêneros preferidos da juventude: o concerto, a música de câmara e a canção.

Antes de O Cavaleiro da Rosa, Strauss havia composto outras duas óperas de grande sucesso: Salomé (1905) e Elektra (1909). Ambas foram chocantes para o mundo da ópera, com seus temas desconcertantes e sua linguagem musical moderna e extremamente complexa para a época. Portanto, não foram poucos os que se surpreenderam quando Strauss apresentou sua nova criação, O Cavaleiro da Rosa, em 1911: uma ópera cômica, recheada de situações burlescas e inverossímeis, cuja música se apoia, principalmente, na valsa. A guinada no estilo talvez se explique pela vida próspera que Strauss passou a ter após o sucesso de Salomé e Elektra. Com Salomé ele havia se tornado não apenas o mais famoso compositor vivo, como o mais rico de todos. Com o que recebia de direitos autorais, pôde realizar seu sonho de viver apenas para compor, embora fosse sempre solicitado a reger orquestras por toda a Alemanha. Se Salomé e Elektra foram compostas em grande parte enquanto Strauss e a família moravam na casa de seu sogro, O Cavaleiro da Rosa foi escrita em sua nova vila aos pés dos Alpes, na bucólica cidade de Garmisch-Partenkirchen. Na tranquilidade de sua sala de estudos, em uma grande mesa de carvalho, com vista para as montanhas, Strauss frequentemente dizia: “chegou a hora de escrever uma ópera mozartiana”. Era o fim dos anos de penúria, e o grande compositor, agora com quarenta e cinco anos, mudava radicalmente de estilo.

O Cavaleiro da Rosa é um tributo de Strauss a Mozart. Trata-se de sua segunda parceria com Hugo von Hofmannsthal, escritor e dramaturgo vienense que escreveu também o libreto de Elektra e ainda viria a colaborar com o compositor nas óperas Ariadne em Naxos (1912), A mulher sem sombra (1913), A Helena egípcia (1928) e Arabella (1929).

A ação de O Cavaleiro da Rosa se dá na Viena do século XVIII: a princesa Maria Teresa von Werdenberg (conhecida como Marechala, pelo seu casamento com o Marechal von Werdenberg), na casa dos trinta, tem um caso com Octavian, jovem cavalheiro de família nobre (papel cantado por uma mezzo-soprano, assim como o Cherubino, de As Bodas de Fígaro, de Mozart ). Quando o caricato Barão Ochs auf Lerchenau conta à Marechala de seu amor por Sophie, ela lhe propõe que seja Octavian quem leve à jovem a rosa com a proposta de casamento. Octavian e Sophie apaixonam-se perdidamente e, desde então, têm início situações cômicas em que o par tenta esconder de todos o seu amor. Ao final, o romance é descoberto e a ópera termina com um belíssimo trio cantado por Octavian, Sophie e a Marechala, quando esta última cede o amante à rival, para que possam ser felizes.

Desde a estreia, vários trechos da ópera foram apresentados em concerto. O próprio Strauss arranjou suas sequências favoritas de valsas para serem apresentadas isoladamente. No entanto, a versão de concerto mais conhecida foi realizada nos Estados Unidos, em 1944, provavelmente pelo polonês Artur Rodziński, regente da Orquestra Filarmônica de Nova York (embora seu filho, Richard Rodziński, afirme que o arranjador da Suíte foi Leonard Bernstein, regente assistente de seu pai, à época). A Suíte O Cavaleiro da Rosa, op. 59, coletânea de alguns dos melhores trechos da ópera, teve sua primeira audição em outubro de 1944, pela Orquestra Filarmônica de Nova York, sob a regência de Artur Rodziński. Richard Strauss, sem dinheiro após a Segunda Guerra Mundial, concordou com a publicação da Suíte, no ano seguinte.

Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

Olho:
Suas obras influenciaram profundamente os compositores do início do século XX. Dono de um catálogo vastíssimo, Strauss soube, como ninguém, ser bem-sucedido em quase todos os gêneros musicais.

Não foram poucos os que se surpreenderam quando Strauss apresentou sua nova criação, O Cavaleiro da Rosa, em 1911: uma ópera cômica, recheada de situações burlescas e inverossímeis, cuja música se apoia, principalmente, na valsa.

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