Sergei PROKOFIEV
Instrumentação: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, cordas.
A Sinfonia-Concerto, op. 125 de Prokofiev, mais conhecida como Sinfonia Concertante, é, nas palavras do próprio compositor, uma reelaboração de seu Concerto para violoncelo, op. 58. Os primeiros esboços do Concerto para violoncelo datam de 1933, época em que o compositor iniciou seu processo de repatriação. Prokofiev, que vivia no Ocidente desde 1918, retornou definitivamente à União Soviética em 1936. Desejando ser bem recebido em sua terra natal, abandonou várias vezes a composição do Concerto para violoncelo, dando preferência às encomendas para música de filme, teatro e balé, gêneros que ele considerava mais acessíveis ao público soviético. A composição do Concerto para violoncelo só seria finalizada em 1938. A estreia, em Moscou, no dia 26 de novembro de 1939, revelou as fraquezas da obra. Infeliz com o resultado, Prokofiev resolveu seguir os conselhos de seu amigo, o compositor Nikolai Myaskovsky, e revisou completamente a partitura. A nova versão foi estreada no ano seguinte, em Boston. Mesmo assim, o Concerto para violoncelo cairia no esquecimento e raramente seria executado.
No dia 21 de dezembro de 1947, no Pequeno Auditório do Conservatório de Moscou, Prokofiev assistiu, pela primeira vez, à apresentação do jovem violoncelista Mstislav Rostropovich, de 20 anos de idade. Rostropovich executou, dentre outras obras, o seu esquecido Concerto para violoncelo, com uma redução para piano da parte orquestral. Nascia ali uma prolífica parceria, cujo primeiro fruto seria a Sonata para violoncelo, op. 119, composta em 1949 e dedicada ao violoncelista.
Em 1950, com a ajuda de Rostropovich, Prokofiev iniciou novos trabalhos de revisão de seu Concerto para violoncelo. A revisão foi tão profunda que só seria terminada no final de 1951. Em 18 de fevereiro de 1952, no Conservatório de Moscou, a nova obra era estreada, sob o título de Concerto para violoncelo nº 2, com Rostropovich ao violoncelo e o pianista Sviatoslav Richter regendo a orquestra de alunos, no que parece ter sido a única aparição pública de Richter como regente. Ao publicá-la, Prokofiev não apenas a dedicou a Rostropovich, como mudou o título para Sinfonia-Concerto, deixando claro que a orquestra representa um papel tão importante quanto o do solista. Hoje em dia ela é mais conhecida como Sinfonia Concertante, título frequentemente utilizado pelo próprio Rostropovich.
Na Sinfonia Concertante algumas das características típicas do estilo de Prokofiev convivem lado a lado: as inovações tímbricas, uma criatividade melódica sem limites e certa aspereza harmônica. A parte do violoncelo exige um instrumentista impecável, pois que os solos são de dificuldade ímpar, tanto do ponto de vista técnico quanto musical. O primeiro movimento (Andante) é lento e possui dois temas: um primeiro, ardente e apaixonado, e um segundo, mais leve e tranquilo. O segundo movimento (Allegro giusto) é o mais dramático dos três, com solista e orquestra em perfeita sintonia. O primeiro tema é extremamente empolgante, enquanto a exuberância do segundo representa um contraste admirável. O terceiro movimento (Andante con moto) é uma variação em três partes. O primeiro tema inicia-se lento e, pouco a pouco, transforma-se em uma dança. O segundo tema tem ares de canção folclórica. Ambos são trabalhados ao longo do movimento até atingir uma coda trepidante que encerra a Sinfonia de maneira surpreendente.
Guilherme Nascimento
Compositor, Doutor em Composição, professor da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.