Gabriela Montero
Instrumentação: piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, cordas.
Conta-se que a mãe de Gabriela Montero a ninava cantando a melodia do hino nacional venezuelano. Qual não foi sua surpresa ao perceber que, aos quinze meses de idade, aquela criança tirava de ouvido, em seu pianinho de brinquedo, o familiar tema do hino nacional de seu país. De sua mais tenra infância, data então sua intimidade com a música e sua paixão especial pela improvisação. Tão precoce talento só poderia desenvolver-se meteoricamente. Assim, Montero iniciou seu estudo formal de piano aos quatro anos sob orientação de Lyl Tiempo. Aos cinco, fez sua primeira apresentação pública e, aos oito, solou o Concerto para piano em Ré maior de Haydn com a Orquestra Jovem Nacional da Venezuela (futura Orquestra Jovem Simón Bolívar) regida por José Antônio Abreu, idealizador do sistema de educação musical difuso, El Sistema. Contemplada com uma bolsa de estudos do governo venezuelano, Montero mudou-se em 1978 para os Estados Unidos, onde foi orientada por Rosalina Sackstein e Edna Golansky. Entrou em 1990 para a Royal Academy of Music, em Londres, onde recebeu orientação de Hamish Milne e Andrzej Estérhazy, graduando-se em 1993. Entre suas inúmeras conquistas, estão o 3º lugar no Concurso Chopin, em Varsóvia, em 1995, o prêmio Joseph Hoffman da Competição Internacional de Piano de Palm Beach, em 1987, bem como o AMSA Young Artist International Piano Competition de 1983, em Cincinnati.
Conhecida principalmente por sua brilhante carreira como intérprete e por reinserir e promover, por incentivo de Martha Argerich, a prática da improvisação dentro do ambiente da música de concerto, Gabriela Montero entende ser esta prática uma forma única de se conectar com seu público e de permitir que também seu público se conecte com ela. Embora acredite ser a improvisação “a mais pura forma de criatividade musical”, sabe que também a execução e a composição constituem, junto à improvisação, os três elementos inseparáveis de seu fazer musical. Entretanto, apenas em 2011 oficializou sua carreira como compositora, ao estrear seu opus 1, Ex Patria, poema sinfônico para piano e orquestra em que expressa seu desconforto diante da atual situação política de seu país natal.
Embora tenha declarado publicamente sua intenção de compor um concerto para piano e orquestra em 2010, o Concerto Latino seria estreado apenas em 20 de março de 2016, na Gewandhaus, em Leipzig, pela Orquestra Sinfônica MDR regida por Kristjan Järvi, tendo a compositora como solista. A obra é uma ode ao espírito latino-americano e, em especial, às idiossincrasias musicais caribenhas. O Concerto apresenta um exuberante primeiro movimento em que o tema de abertura evoca o segundo movimento das Bachianas nº 4 – Coral (Canto do Sertão) –, de Villa-Lobos, e explora elementos de conga e de son, um estilo de canto e dança originário de Cuba. Seu segundo movimento dá vazão às livre associações entre o repertório musical europeu e elementos líricos da cultura popular latino-americana. Finalmente, o Allegro venezolano final faz ouvir com energia elementos tradicionais do joropo, gênero musical e de dança característico da cultura llanera que floresceu na bacia do rio Orinoco.
Igor Reyner
Pianista, Mestre em Música pela Universidade Federal de Minas Gerais e Doutor em Literatura pelo King’s College London.