Heitor VILLA-LOBOS
Instrumentação: Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, clarone, 2 fagote, contrafagote, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, celesta, harpa, cordas.
Na vasta obra de Villa-Lobos, os concertos para instrumentos solistas e orquestra se destacam pelo número e pela variedade. A personalidade do compositor se adaptava bem ao gênero, ele próprio se projetando no papel do solista e idealizando a orquestra como um cenário. Curiosamente, a maior parte dessa produção concentra-se nos últimos quatorze anos de sua carreira, quando escreveu doze concertos – entre eles, os cinco para piano.
Na década de 1910, Villa-Lobos reuniu muito material folclórico em suas viagens pelo país. Orgulhoso desse aprendizado, gostava de afirmar que seu principal Livro de Harmonia fora o mapa do Brasil. Contudo, em sua obra dessa fase, notam-se, também, fortes influências de Wagner, Puccini, Vincent d’Indy e Debussy. Nessa década, compôs a Suíte para piano e orquestra, dedicada a sua esposa, a pianista Lucília Guimarães.
Em 1923, Villa-Lobos dava novo passo importante em sua carreira, trocando o Rio de Janeiro por Paris, a metrópole das vanguardas artísticas. Na voga de “exotismo selvagem” que dominava a capital francesa, assumindo o papel de “compositor dos trópicos”, Villa-Lobos normatizou sua estética nacionalista, associando-a aos procedimentos composicionais eruditos característicos do século XX. A série dos Choros, compostos na década de 1920, demonstra essa preocupação com a modernidade, e, entre eles, o mais longo, o de nº 11, foi escrito para piano solista e orquestra, em 1928. Para a mesma formação, no ano seguinte, utilizando os temas da suíte Carnaval das Crianças Brasileiras, Villa-Lobos dedicou à pianista Magdalena Tagliaferro a brilhante partitura do Momoprecoce, explorando sonoridades ricas e imprevistas para retratar a folia carnavalesca de um bloco infantil.
De volta ao Brasil, em 1930, Villa-Lobos exerceu uma atividade abrangente no cenário musical do país, desdobrando-se em múltiplas tarefas – estímulo ao ensino musical, criação de grupos de canto coral, organização e regência de concertos. E continuava compondo muito. As nove Bachianas Brasileiras foram escritas entre as vicissitudes das duas grandes guerras, época da ascensão política dos Estados totalitários. Na obra de Villa-Lobos elas representam sua fase neoclássica, quando referencia, na figura de Bach, a tradição ocidental, procurando afinidades entre alguns procedimentos brasileiros e a música do grande gênio alemão. A Bachiana nº 3 foi escrita para piano solista e orquestra.
A partir de 1945, com o final da guerra, o compositor retomou sua carreira internacional, principalmente nos Estados Unidos, mantendo contato com célebres intérpretes e maestros. Villa-Lobos recebeu encomendas de concertos de músicos eminentes como Nicanor Zabaleta (harpa), Segovia (violão) e John Sebastian (gaita), para os quais compôs obras definitivamente incorporadas ao repertório desses instrumentos. O Concerto nº 5, dedicado à pianista polonesa residente no Rio de Janeiro, Felicia Blumental, é o mais popular dentre os concertos para piano do autor, com um movimento lento de grande efeito e a exuberância virtuosística de sua escrita pianística.
Paulo Sérgio Malheiros dos Santos
Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado. Apresenta o programa semanal Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.